“Geraldo não foi preso nem foi torturado. Mas para
um cara como ele, se lhe tivessem arrancado três unhas, dado choques elétricos,
teria sido menos grave do que a castração de seu espaço artístico. O exílio
para Geraldo foi enlouquecedor. O Geraldo era fruto de uma vontade ferrenha de
ser um artista popular, no sentido de reformular as expressões culturais do
povo e entregá-las de volta. Deu a vida dele para isso, entregou-se totalmente
à sua arte.”
(Depoimento de Nilce Tranjan, primeira esposa de
Geraldo Vandré a revista MPB Compositores)
Geraldo
Vandré é um mistério. Ganhador do primeiro lugar no II Festival de Música
Popular da TV Excelsior, em 1966 com “Porta Estandarte”, parceria com o maestro
Fernando Lona, até a consagração com o segundo lugar no III Festival
Internacional da Canção, com “Pra não dizer que não falei das flores”, no qual
Chico Buarque e Tom Jobim venceram embaixo da vaias com a belíssima “Sabiá”,
também política, porém pela letra mais metaforizada, não teve entendimento do
público. A perseguição e o exílio, depois a volta e o ostracismo, voltando a
ser apenas o advogado Geraldo Pedrosa de Araújo Dias. Dono de uma sensibilidade
humanamente artística, compôs canções para a MPB (ele nunca aceitou a posição
de cantor de protesto) como “Disparada” parceria com Théo de Barros, empatada
em primeiro lugar no II Festival de Música Popular Brasileira em 1966, com uma
emocionante interpretação de Jair Rodrigues; antes, em 1965 havia composto a
trilha sonora do filme “A hora e a vez de Augusto Matraga” , do diretor Roberto
Santos, baseado num conto de Guimarães Rosa, Vandré fez história e desapareceu,
deixando uma lacuna enorme no tempo e na história da nossa Música Popular
Brasileira.
E
justamente para suprir a falta de algo mais acessível ao público sobre o
compositor, a escritora Dalva Silveira lançou pela Fino Traço Editora o livro
“Geraldo Vandré – a vida não se resume em festivais”.
Neste
estudo sobre Vandré, a escritora desnuda a figura mítica de artista, porém com
um profissionalismo ao extremo, sem deixar transparecer sua opinião pessoal,
deixando que o leitor tire suas próprias conclusões.
Dalva diz que escolheu o tema em função de
motivações pessoais – é admiradora da música de Vandré, que ouvia em casa
quando criança – e da possibilidade de dar a elas um âmbito mais amplo,
político, histórico e social. “Sempre me
tocou muito a música do Vandré, e também os boatos, depois que ele voltou do
exílio, de que estava louco, tinha sofrido lavagem cerebral. Quando entrei no
curso de história, na UFMG, me reencontrei
com aquele período e quis falar dele, a partir do Vandré”, aponta.
O titulo veio do famoso discurso de Vandré sobre as
vaias a música “Sabiá” de Chico e Tom, o qual é reproduzido no livro. Vejamos
abaixo:
“Olha,
sabe o que eu acho? Uma coisa só... mas Antonio Carlos Jobim e Chico
Buarque de Holanda mereceu nosso respeito (aplausos). A nossa função é fazer
canções. A função de julgar, neste instante, é do juri que está ali (vaias)...
Um moment! (mais vaias, longas)... Por favor, por favor, (mais vaias)... E tem
mais uma coisa só. Pra vocês, pra vocês que continuam pensando que me apoiam
vaiando. (“É marmelada, é marmelada, é marmelada”) Olha tem uma coisa só. A
vida não se resume em festivais.”
Para escrever seu
livro, Dalva Silveira analisou 68 matérias de revistas e jornais publicadas
entre 1966 e 2009 e se propôs a descobrirm até que ponto a imprensa brasileira
contribuiu para a construção do enigma em torno do compositor. Para a
escritora, a imprensa contribuiu sim, para a criação do imaginário sobre a vida
pós “Caminhando” do compositor Geraldo Vandré. Entretanto esses fatos o
transformaram em mito.
Geraldo
Pedroso de Araújo Dias Vandregísilio
nasceu em 1935, em João Pessoa, na Paraíba. Adotou o
nome artístico de Geraldo Vandré em homenagem ao seu pai, José Vandregísilio.
Começou a carreira na década de 1960 e ficou famoso por canções como “Disparada”, “ Porta-estandarte” e” Pra não dizer que não falei das flores”,
que se tornou hino contra a ditadura militar. Foi obrigado a deixar o país em
1969. Quando voltou, parecia demonstrar novas opiniões em relação à política.
Deixou de criticar os militares e fez a música “Fabiana” em homenagem à Força
Aérea Brasileira (FAB). Abandonou os palcos e se transformou no enigma da MPB.
Dalva
Silveira é natural de Belo Horizonte\MG. Graduou-se em História pela
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e concluiu a sua especialização em
Ensino Técnico, pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais
(CEFET\MG). Posteriormente, defendeu o seu mestrado em Ciências Sociais pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC\SP). Atualmente é
funcionária da Rede Particular de Ensino de Belo Horizonte\MG.
“Geraldo
Vandré – a vida não se resume em festivais” é um livro necessário para quem
quer conhecer melhor uma boa parte da história da nossa MPB, para quem admira
Geraldo Vandré e mais urgente ainda, para quem precisa aprender a compreender o
ser humano com todos os seus erros e acertos.
Contatos
com a autora: dalvasilveira@yahoo.com.br
– (31) 9745.6939.
Muito interessante. Realmente Vandré é um mito,fala-se muita coisa sobre ele,comenta-se muito,mas ninguém sabe nada de verdade..O livro vem em boa hora em que se discute aquela época da nossa história..gostei do seu blog.Abraços
ResponderExcluirO Brasil está órfão de intelectuais que de alguma forma proteste, se manifeste de forma a mostrar caminhos para esse povo, inculto e carente de ídolos. Como foi personagens tipo Geraldo vandré.
ResponderExcluirEstamos carentes de cantores como Geraldo Vandré que Deus o abençoe em nome de JESUS!!!!!!!!!!!!
ResponderExcluirShow Caminhando e Cantando com musicas de GERALDO VANDRÉ e inéditas em parceria com ALQUIMIDES DAERA / OUVIR www.palcomp3.com/alquimidesdaera
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Grande Geraldo! E grande é a poesia.
ResponderExcluirAO pensar é preciso expressar aquilo que as faculdades não falam. O "lado obscuro da lua":
Eis aí a pura e profunda realidade sociológica e filosófica:
Com a “Copa das Copas®” do PT®, em vez de se construir hospitais, construiu-se prédios inúteis!
A Copa das Copas®, do PT© e de lula©. Sempre se utiliza de propaganda, narrativas e publicidades sofisticadas e bem feitas para enganar e praticar lavagem-cerebral nos meios de comunicação. Não se desenvolve a imaginação.
Precisamos sim de alta cultura. Não de cultura de massas. Indústria cultural.
O pessoal de nossas escolas precisa de Machado de Assis. Villa-Lobos. Drummond. Kafka. Graça Aranha, Aluísio de Azevedo, do Maranhão. Rachel de Queiroz.
O que precisamos de mais no Brasil é de escolas. E das boas: de qualidade.
As escolas EaD, à distância (atual, devido a pandemia) são péssimas.
Não se aprende bem. O que mais o Brasil precisa na real e atualmente é de alta literatura. Alta cultura. Mas escolas sobretudo. O PT é barango. O Kitsch político contemporâneo.
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