sábado, 11 de dezembro de 2010

Ivinho Lopes: tipo exportação










Quando encontrei, no XXIV Psiu Poético - Salão Nacional de Poesia de Montes Claros, com Ivinho Loppes, grande músico brasileiro, me lembrei do que disse o saudoso maestro brasileiro Antônio Carlos Jobim: “a saída para o músico brasileiro é o Galeão”.
Fiquei ali, conversando com Ivinho - que hoje reside na França - artista gentil, inteligente, educado... ao mesmo tempo em que refletia sobre a nossa música popular brasileira. A reflexão, portanto, aumentou quando ouvi seu CD “Lexedenguin”; um trabalho maravilhoso que merece estar tocando diariamente, também, nas rádios do Brasil, pois quem ganharia com isso seria o ouvinte brasileiro.
A voz de Ivinho é livre, suave, consciente, afinadíssima, rouca, prazerosa e lamentadora ao mesmo tempo, relativamente arrastada, caminhando para o melhor do blues universal.
“Lexedenguin” traz uma riqueza de diferentes gêneros musicais, curtida nas raízes do baião, samba, blues, funk, folk, frevo, bossa nova... A facilidade com que esse músico traduz e conduz todos esses gêneros, nas nove faixas do CD, não deixa dúvidas de que ele é um exímio estudioso e conhecedor desses ritmos musicais, expressos com tamanha perfeição.

O que mais me chamou atenção em seu CD foi a primeira faixa: “Agnes”. Vejo contida na mesma, uma rara habilidade, num jogo de poema concreto e no original do rap que resulta num som muitíssimo criativo; nesta, também, achei muito interessante a inclusão incidental da canção: “Papagaio do futuro” de Alceu Valença, participante do Festival Abertura da TV Globo em 1975.
Ressalto, entretanto, que todas as faixas são de excelente qualidade: a faixa 2 – “Olga Maria” – ( “Eu acordei sonhando com a Olga Maria\Dorival Caymi o mar da Bahia (...) carnaval la da Bahia\terno de Reis de folia...”); Muito bacana! É o Brasil presente em, praticamente, todo seu trabalho! Observem um pouquinho da faixa 6 – “Frutas do Sertão”: “Nos caminhos desse lado\afundar pelo serrado\percorrer Buritizeiro\Pirapora, Guacuí\Januária, Montes Claros\São Francisco, São Romão\Na estrada deitar e rolar\chupar frutas do sertão\umbu, manga, melão\caju, araçá, aití\(...)”. A faixa 4 – “Pequenina” – é agradável sentimento, traz um pouquinho de francês, um charme! “Apague a Luz”, faixa 5 é uma obra prima, uma verdadeira poesia, linda! Traz metáforas muito bem construídas; juntamente com uma melodia maravilhosa. “Quem mora no mato”, faixa 6, também é uma poesia, um lirismo cheio de ternura e ecologia, nesta o violão e a percussão soam com muita alma. “O xamego”, faixa 7, é uma brincadeira dançante, muito interessante, alegre e cheia de ritmo e swing. “Coração Amaro”, faixa 8, dedicada a Caetano Veloso, uma homenagem muito bem merecida.
A faixa 9,” Lexedenguin”, título do CD é regionalismo puríssimo, um xote brasileiro de quem vivencia, para saber cantar do que está falando. Uma musicalidade que faz a emoção vibrar e o corpo todo remexer. Conclusão: um trabalho singular, de qualidade indicutível!

Cinco, das nove faixas são de autoria exclusiva de Ivinho Loppes. Exceção apenas para “Apague a luz”, parceria com Marcílio Diniz e Sérgio Fantini; “O xamego”, autoria de Zé Cavalo Véio; “Coração Amaro”, parceria com Márcio Levy; e “Lexedenguin”, parceria com Inácio Loiola e Juniô Assurua.

Ivson Roberto Lopes, o Ivinho Loppes é cantor, compositor e performer brasileiro. Sempre acompanhado por seu violão, ele se apresentou em vários lugares que vão desde o Teatro João Gilberto, em Juazeiro\BA ao grande teatro do Palácio das Artes em Belo Horizonte\MG, mas também em festivais, projetos culturais em diversas universidades, feiras e bares nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Distrito Federal, Rio de Janeiro e em muitos outros, onde se apresentou ao lado de talentosos músicos brasileiros. Sua música está enraizada na mistura de diferentes gêneros musicais, como samba, baião, blues, rock, funk, os ritmos folk, bossa nova, frevo e marchinhas. Já abriu shows de Zé Ramalho, Sá Guarabira Trio Virgulino, Beto Guedes, Marku Ribas e Nando Reis. Hoje vive em França e tem realizado concertos em Zurique e Genebra, na Suíça. Também mostrou sua música na exposição brasileira de pintura no ateliê de Jacques Charrier (ex-marido de Brigitte Bardot), em Paris e na inauguração da primeira exposição mundial "Os Cangaceiros", em Montpellier, Gala VI Congresso Europeu de Acarologia do castelo para Vérargues Pouget. Também se apresentou em eventos e apresentações populare brasileiras com a boneca de pano de tamanho humano Nega Maluca. Já percorreu vários países europeus: Bélgica, Alemanha, Áustria, Holanda, Espanha, Suíça, Eslováquia, Itália, Luxemburgo e Portugal.
“Lexedenguin” foi produzido e dirigido musicalmente por Ivinho Loppes e Marku Ribas, com arranjos da dupla, tendo a participação dos músicos Marku Ribas, Eduardo Machado, Sérgio Silva, Caxi Rajão, Valtinho, Giuliano Fernandes, Cláudio Stalino, Guilherme Bahia, Márcio Levy, Wanderson lopes e Anderson Oliveira.

Respeitado pelo seu talento em seu país de origem, o músico\compositor e intérprete Ivinho Loppes hoje é respeitado, também, em outros países, onde o seu trabalho é divulgado.


“Lexedenguin” é um trabalho fonográfico para quem tem sensibilidade e gosta de música de qualidade. Contatos com Ivinho Lopes: ivsonloppes@yahoo.fr

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Tatiana Cobbett e Marcoliva em Bendita Companhia
















Benditos sejam eles que estão a enriquecer o universo musical brasileiro com o álbum Bendita Companhia - CD da dupla Tatiana Cobbett e Marcoliva, uma rica e variada combinação de ritmos brasileiros, além de estrangeiros.
É perceptível o intenso trabalho de pesquisa, o qual foge ao óbvio e surpreende com uma multimusicalidade que traz, entre outras, representações e nuances sonoras genuínas de fados, tangos, ritmos castelhanos, a beleza do som da sanfona, o forró pé de serra, cirandas, cocos, frevos, xote, xaxado, diversas cantorias regionais...

Tive a oportunidade de vê-los no palco, durante o XXIV Salão Nacional de Poesia – Psiu Poético, em Montes Claros\Minas Gerais e alí pude perceber a Incrível química que há entre os dois, pela dupla sedução cênica, vozes que se complementam, o lúdico e sensações que se fundem e nos presenteiam com uma musicalidade sensivelmente poética.
Artistas indiscutivelmente competentes, ousados no experimentalismo, conscientes de cada movimento e expressão corporal-musical; em alguns momentos me lembraram os inesquecíveis Doces Bárbaros, formado por Gil, Caetano, Betânia e Gal, nos anos 70: pela ousadia, magnetismo, inovação, poesia e sensualidade. Um DVD com o show merece ser produzido para um futuro breve, pois as performances cênicas são de rara beleza.
A sutileza da voz de Tatiana Cobbett tem a capacidade de aguçar todos os nossos sentidos, ao mesmo tempo em que o preciso cantar de Marcoliva nos deixa alerta, numa intensa e gratificante sonora percepção, acompanhada do agradabilíssimo e requintado som de seu violão e de muita imaginação.

Todas as faixas do CD são de excelente qualidade musical. A riqueza de metáforas na maioria das letras é fascinante: destaco a faixa 9, “Iraque”, que é muito interessante: “Nosso umbigo transplantado num pé de girassol\ 'Tudo passa eu passarinho'\ é Quintana acenando pro que é essencial”. Destaco, ainda, a faixa 2, “Aspirina”, magnífica! Parabéns à dupla e aos demais compositores, pelo fantástico repertório. http://www.sonoraparceria.com.br/benditacompanhia

Bendita Companhia abre com “Aleivosia” de Alessandro Kramer e Tatiana Cobbett, seguido de “Aspirina”, de Marcoliva, “Brincadeira” de Tatiana Cobbett, “Chorei e Disse” de Marcoliva, “Cort Nua” de Joubert Moraes e Mariacida, “Doce Vale” de Jobert Narciso, “Dois em Um” de Marcoliva e Tatiana Cobbett, “Gangorra” de Zé Fontes e Tatiana Cobbett, “Iraque” de Marcoliva e Tatiana Cobbett, “Missa de Domingo” de Tatiana Cobbett, “No caminho” de Rafael Calegari e Nery Platt, “Pé de Serra” de Tatiana Cobbett, “Procurai” de Tatiana Cobbett, “Reggae J. Gilberto” de Marcoliva e Tatiana Cobbett, “RepenteDeu” de Mauro Gilbert e Tatiana Cobbett, “Xote Lindo” de Rafael Calegari, Zelito Coringa e Marcoliva, “Pif das Meninas” de Tatiana Cobbett, “Xote da Ribeira” de Marcoliva e “Teu Samba” de Tatiana Cobbett.

Quem são esses interessantes artistas...
'Em 1969, dona Estela encontrou seu filho de três anos, na sala, com um rabicho de ferro elétrico cantando um sucesso recente: "Debaixo dos Caracóis...", música de Roberto e Erasmo Carlos em homenagem a Caetano Veloso. Era a primeira manifestação musical de Marcos Vanderlei de Oliveira, que aos 12 anos arriscou seus primeiros acordes nas aulas de violão. Corajoso, o menino juntou, sem compromisso, palavras em composições. Colocou para fora seu talento nos auditórios escolares e em pouco tempo tocava em bares, festivais, teatros e bailes. Dedicado, aos 15 já era um profissional e percorria o Brasil participando de grupos nativistas, uma febre em meados da década de 80. Seu tempo era dividido entre músicas “gaúchas” e aulas de violão clássico.
Natural de Carazinho (RS), Marcoliva especializou-se em violão e voz. Aos 18, pelas mãos do marido de sua professora de piano lhe foi apresentada a onda Tropicalista, onde brilhava Caetano, Gal, Gil, Torquato, Mutantes, Capinam, Tom Zé... Largou o gauchismo e trocou o Rio Grande do Sul por Santa Catarina em 1994, onde começou a tocar na noite de Florianópolis. Nessa época também se apresentou com um grupo em diversas cidades argentinas. E foi amor à primeira vista seu encontro com a zamba, chacarera, chamamé, tango, entre outros ritmos do folclore da Argentina. Na capital catarinense formou sua sólida parceria com Tatiana Cobbett, com quem gravou dois discos: Meu Santo Antonio (de Nara Lisboa, em 2000) e no ano seguinte Parceiros. Atualmente, Marcoliva é professor de música e idealizador de projetos, como Crescendo com Arte, Boi de Cá, que tem o intuito de pesquisar o folclore catarinense, e o Carijó Espaço de Arte, mais conhecido como OCA'.

'Única mulher entre os cinco filhos do diretor de cinema William Cobbett e da produtora cultural, Eliana Cobbett, a carioca Tatiana Cobbett teve a presença constante da arte na sua vida. Mas foi na dança que encontrou a maneira de se expressar e de lidar com o mundo dos aplausos, do palco, das viagens e da disciplina. Bailarina formada pela Escola de Danças Clássicas do Teatro Municipal do Rio de Janeiro trabalhou durante 12 anos na companhia paulista Balé Stagium, com quem percorreu o Brasil e boa parte da América em diversas apresentações. No final da década de 1980, Tatiana aparece para as críticas pelo trabalho realizado no balé Stagium, dirigido por Marika Gidali e Décio Otero. Dos 20 e poucos anos aos 40 escreveu, idealizou e atuou no musical Mulheres de Holanda e dirigiu os espetáculos Grito das Flores, Esta Terra Portugal, Alma Flamenca e o Festival Três Bandeiras. Nessa época, cantarolar e inventar versos, que não registrava, já era a marca pessoal da bailarina. Mas seu encontro mais estreito com a música se deu como produtora nos shows de Badi Assad, Carlinhos Antunes, Tutti Baê, Janete Machnacz, Joel Brito e Nara Lisboa. Quando se mudou para Florianópolis, em 1998, Tatiana produziu e dirigiu shows e externou sua veia de letrista com Marcoliva. De lá para cá, centenas de composições e inúmeras parcerias, além do livro Básicas Composições. Seu comportamento cênico no palco é compartilhado em oficinas, onde ela desenvolve a qualidade sensorial do movimento.
Com outro trabalho em mente, Tatiana segue sua estrada arregimentando pessoas e registrando seu sensível trabalho. Há vários anos trabalhando com composições próprias, Tatiana Cobbett e Marcoliva já percorreram boa parte do país e estiveram em Buenos Aires e Montevideo.
Com direção musical coletiva, produção executiva de Tatiana Cobbett e Marcoliva, produção musical de Rafael Calegari, assistência de estúdio de Tarcísio Mafra, direção de arte, figurino e produção fotográfica de Carlos Gardin, assistência de produção de Gustavo Lociks, figurinos de Marcoliva e Cristina Guerra, designer gráfico de Juliene Doria, fotografia de Milton Carello, assistência de fotografia de Moreno, maquilagem de Marcos Mitsou e Vilma Sena nos cabelos, gravado e mixado no Lemory Studio Júlio Lemos, Bendita Companhia é uma boa pedida para quem procura um trabalho de qualidade fonográfica impecável'.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

O Menino Poeta: poesia, música e fantasia
























“(...) afastará o volume com desdém: - Livro para crianças!
Sem sombra de dúvidas as crianças o acolherão de braços abertos, porque elas são capazes de compreender tudo, mesmo os livros para gente grande.(...)”
A peça teatral “O menino Poeta”, baseada no livro homônimo de Henriqueta Lisboa, adaptado para o teatro por Kalluh Araújo, me fez lembrar muito este texto de Dom Marcos Barbosa, nas orelhas de “O Pequeno Príncipe”, obra máxima de Antoine de Saint-Exupéry.
“O Menino Poeta”, portanto, não me deixou dúvidas de que é uma peça teatral infantil que muito agradará, também, aquela criança que se encontra escondida no mais íntimo de nós, adultos.
É um emocionante espetáculo que recomendo, entre outros, pela beleza do texto, excelente atuação cênica e musicais maravilhosos. Tudo trabalhado com muito esmero, competência e especial habilidade.
Direção enxuta do competente Kalluh Araújo, que também assina o cenário e o figurino. Os arranjos musicais da peça trazem a assinatura do renomado músico e compositor Geraldo Vianna.
Entre as interessantes cenas, muito prazerosas e bem contextualizadas, estão as do tempo da Jovem Guarda, da TV Itacolomi ao exibir vinhetas deste canal de televisão que marcou época na cultura mineira e as projeções de imagens fascinantes de uma Belo Horizonte dos anos 60 e 70, uma viagem na história mineira e brasileira.
Outro detalhe a ressaltar são as canções de compositores de peso, como: Vander Lee, Maurício Tizumba, Pedro Morais, Celso Adolfo, Kadu Vianna, Affonsinho, Erika Machado, Renegado, entre outros.
A grande proeza é, exatamente, a deliciosa junção da poesia com a música.
Estrelado pelos atores e cantores Thelmo Lins, Wagner Cosse, Isabella Michielini e os meninos Vinicius Carvalho e Matheus Corrêa, o espetáculo baseia-se no livro de Henriqueta Lisboa, publicado originalmente em 1943.
O talento da dupla Thelmo Lins e Wagner Cosse é incontestável. Basta ouvir seus Cds “Cânticos” com poemas musicados de Cecília Meireles; “Thelmo Lins canta Drummond” com poemas musicados de Carlos Drummond de Andrade e o Cd “Trá-lá-la-lá-li Trá-lá-lá-lá-lá – Poemas musicados, da poetisa mineira Henriqueta Lisboa”, que deu origem a peça teatral “O menino poeta”.
Tudo começou quando há dois anos, enquanto excursionavam com o show “Cânticos”, a dupla foi convidada pelos familiares de Henriqueta Lisboa a realizar esse projeto ambicioso, que seria musicar seus poemas. Escolheram então 14 poemas do livro infanto-juvenil “O Menino Poeta”, escrito em 1943 e considerado uma obra prima da nossa literatura. Daí convidaram 13 compositores mineiros para essa empreitada e no início de 2009 receberam desses convidados as canções, que são: “O menino poeta” com música de Renegado, “O palhaço” musica de Affonsinho, “Os carneirinhos” musica de Érika Machado e Cecília Silveira, “Canoa” musica de Kristoff Silva, “Liberdade” musica de Pedro Morais, “Várzea” música de Vander Lee, “Tico-Tico” música de Maurício Tizumba, “Caboclo D´Àgua” música de Sérgio Pererê, “Os rios” música de Celso Adolfo, “Coraçãozinho” música de Kadu Vianna, “Passos” música de Ricardo Nazar e “Cantiga de neném” música de Ana Cristina. “Segredo” foi musicada por Thelmo Lins e “Caixinha de música” por Wagner Cosse.
E para dar uma qualidade maior ao projeto, convidaram um time de peso para as participações especiais. São eles: Gabriel Brescia de nove anos, na faixa “Canoa”; João Guilherme, afilhado de Thelmo, que com apenas um ano e dois meses fez algumas brincadeiras na faixa “Coraçãozinho”; o contador de histórias Roberto de Freitas também deu seu toque em “O menino poeta”; Regina Milagres e Graziela Cruz dividem com os intérpretes, os vocais na faixa “Passos” e “Cantiga de neném”. E para os corais infantis foram convidados crianças de oito a doze anos.
Participam do Cd Geraldo Vianna (direção musical, arranjos, violão, piano e programações), Serginho Silva (percussões), Sérgio Rabello (contrabaixo e cello), Rogério Delayon (violão de aço e guitarra), Danilo Abreu (piano), Renato Savassi (sax, clarineta e flauta) e Célio Balona (acordeom). Como técnico de gravação, Fernando César, conhecido como Cabrito, experiente profissional mineiro, que permitiu ao projeto uma lapidação sonora de qualidade impecável.
Realizado com os benefícios da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte, o Cd “Trá-lá-la-lá-li Trá-lá-lá-lá-lá – Poemas musicados da poetisa mineira Henriqueta Lisboa” é uma das melhores indicações para quem procura um trabalho musical de qualidade, para ouvir em casa ou até mesmo dar de presente a um amigo.
Para ouvir as canções, basta acessar os sites www.myspace.com/thelmolins e www.myspace.com/wagnercosse.
“O menino poeta” tem produção da Cyntilante Produções e gestão cultural de TW Comunicação e Arte e é patrocinado pelo projeto Diversão em Cena da Arcelor Mittal e volta em cartaz na capital mineira em janeiro de 2011.
Espetáculo que emociona do começo ao fim, é uma das imperdíveis peças teatrais. Quando estiver, novamente em cartaz, quem tem sensibilidade não deixe de ver. Realmente vale a pena. Para você que não reside em Belo Horizonte solicite a produção do espetáculo, que a leve à sua cidade: (31) 9991.6653. twcomunicacaoearte@uai.com.br
Contatos com Thelmo Lins: thelmotw@gmail.com

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Minas em Foco de Márcio Carvalho: todos merecem ver




















Em agosto desse ano fiz uma doação de quase trezentos livros, de minha biblioteca, para o Centro Cultural do Bairro Padre Eustáquio, Belo Horizonte. Já li, reli e gostei muito de todos que doei, mas dia após dia olhava para eles, ficava angustiado e pensava: quanto egoísmo de minha parte e que desperdício deixar esses preciosos livros e o talento dos autores descansando em minha estante... Mas aí é que está! Apesar de trabalhar incessantemente esse egoísmo, não tive coragem de doar, entre outros, Minas em Foco de Márcio Carvalho; um livro belíssimo! maravilhoso! Totalmente poético, com fotografias capazes de hipnotizar, mexer e remexer com a nossa emoção. Um incrível trabalho lítero fotográfico, que pretendo apreciar muito mais vezes e que seria importante ser apreciado por muito mais pessoas.
Além das incríveis fotografias feitas por Márcio Carvalho quero ressaltar, nesse livro, os inspiradíssimos textos escritos pelo jornalista e escritor mineiro Airton Guimarães; um deles fiz questão de colocar na íntegra, no final desse comentário, pois resume tudo que se tem a dizer sobre esse magnífico trabalho. Vale a pena conferir.

A produção e edição de Minas em Foco é do próprio Márcio Carvalho; projeto gráfico, capa e ilustrações de Alan Lima; tradução para a edição bilíngue por Ana Lúcia Furtado, revisão de Cristina Freitas, que também deixou suas impressões em forma de inspiradíssimos e excelentes poemas, escritos especialmente para o livro; e impressão gráfica a cargo da Rona Editora. O livro foi patrocinado pela Dyteck, Egesa, Fitedi, JMN, Magnesita, Magneti Mareli, Mão à Obra, Minerita, Ouro Minas, Supermercados Rena, Saint-Gobain Canalização e Fundição Sideral, todos através da Lei Rouanet de Incentivo à Cultura.

Segue o poético texto do jornalista Airton Guimarães. Leiam, percebam, sintam os sabores, as imagens, curtam...

“Somos um homem-pássaro. Como convém àquele que deseja viajar para além das montanhas.
Vamos decolar dessa região central, onde situa-se a capital mineira, de um ponto específico e marco significativo: a Praça do Papa, de onde o Pontífice saudou o belo horizonte.
Antes de despedirmo-nos da Capital, um olhar noturno sobre a região da Lagoa da Pampulha: o Mineirão, o Mineirinho, a igrejinha de S. Francisco de Assis, projetada por Oscar Niemeyer.
O crepúsculo envolve as montanhas. E depois, quando do alvorecer, encontramos outros homens-pássaros que, como nós, vasculham o conhecido e o desconhecido.
Passeando pelo espaço, deparamo-nos com o Santuário do caraça, com suas tradições e história que vêm desde 1820, também habitat dos lobos-guará, que à noite aproximam-se mansos à cata de comida e, depois dela, se afastam para o ritual que se repetirá na noite seguinte.
Em terra, frente à mesa farta, os saberes e fazeres de um autêntico café colonial mineiro, regado a broa de fubá, bolo de milho, biscoito de polvilho, rosca-da-rainha, pão folhado, queijo-de-minas...
Para conhecer e exuberância da flora, um passeio pelo Parque Florestal do Inhotim, em Brumadinho, lugar em que o meio ambiente vive em interação com arte contemporânea.
Do nível do solo para um andar abaixo, a gruta da Lapinha, em Lagoa Santa. Com seus 511 metros de extensão, 40 metros de profundidade e as infinidades de formas surpreendentes, como a couve-flor, a cascata, a cortina e as pirâmides.
O circuito do ouro encontra-se diante de nós, região do berço da história de Minas, Mariana, a primeira vila e cidade do estado. Ouro Preto, a primeira capital da nova capitania criada em 1720, com sua riqueza e perene religiosidade como a Semana Santa e Corpus Christi. E Congonhas, a cidade dos profetas de Aleijadinho.
Somos, todavia, andarilhos do ar.”

Márcio Carvalho é graduado em Gestão Empresarial pela Universidade de Itaúna. Natural e residente na cidade de Itaúna/MG. Fotógrafo profissional desde 1991, atuando na área de fotografia industrial, diretor e fundador da Associação Universo Cultural, Vice Presidente e um dos fundadores do Clube de Aviação de Itaúna, e detentor de vários prêmios em nível nacional, tendo sido eleito o melhor fotógrafo da cidade de Itaúna, de 1999 a 2003. Recebeu o Troféu Evidência por dois anos seguidos, 2004 e 2005, promoção do Jornal S' Passo. Em 2007 foi selecionado para o concurso “Retratos do Meu País”, na novela “Páginas da Vida”, da Rede Globo. Depois de um passeio pelas cidades históricas de Minas, o registro de suas paisagens foi reunido em um volume, publicado em 2005, Cidades Históricas Mineiras. O sucesso do livro rompeu as fronteiras do Estado, fazendo com que Márcio Carvalho recebesse convites para exposições, inclusive no exterior, tendo realizado uma em Washington, Estados Unidos, e outra em Madri, na Espanha, nos anos de 2005 e 2006, respectivamente. Em novembro de 2007 publicou “Viver Belo Horizonte”, livro prefaciado pelo prefeito Fernando Pimentel, obra que mostra a Capital mineira em toda sua pujança e beleza centenária. A convite da Secretaria de Turismo do Estado de Minas Gerais realizou na segunda quinzena de fevereiro de 2008, no aeroporto de Confins, a exposição “Cidades Mineiras”, dentro das festividades da inauguração da linha aérea Lisboa/Confins pela TAP Portugal, e posteriormente na cidade de Lisboa, Portugal a exposição denominada “Minas Gerais – 30 lugares inesquecíveis”. Está com um novo projeto, ainda para este ano de 2010, aprovado pelo Ministério da Cultura. Trata-se de Brasília 50 anos, livro comemorativo do cinquentenário da construção da Capital Federal.
Contatos com o autor: marcio@marciocarvalho.net








domingo, 1 de agosto de 2010

Sanráh lança DVD com participação de Cláudio Zoli.

















Foto: Neire Leal
“Ser feliz\e mais nada/(...)”(Sanráh-Rei Batuque)
Venho há alguns meses acompanhando a trajetória do músico Sanráh, artista mineiro de muito talento e sensibilidade, que supera expectativas. Ele vem apresentando para o público, um interessante repertório musical.
Além do excelente trabalho com a música, o jovem Sanráh também sabe escolher, para compartilhar sua mensagem musical, ótimos parceiros. A sua mais recente parceria, por enquanto em palco, foi com o músico Cláudio Zoli que teve uma participação especial, muito simpática, no show de lançamento de seu primeiro DVD\CD ao vivo, intitulado “Ser feliz e mais nada”; gravado no dia 21 de novembro de 2009, na casa de shows Revista Viva, na capital mineira. O lançamento do DVD aconteceu no dia 09 de julho, no Teatro da Biblioteca Pública Estadual em Belo Horizonte\MG.
No DVD, Sanráh mostra uma coletânea de seus 3 CDs autorais gravados em estúdio; a banda que o acompanha é formada por Luciano Corrêa na bateria, Davi Lannes no contrabaixo, Léo Moura no saxofone e flauta, Flávio Barreto nos teclados e Neguinho, Jaiminho e Vinicius Motta nos vocais.
“ Ser feliz e mais nada” tem produção executiva de Marluce Albino, produção e iluminação de Renato Aguilar, assistência de produção de Luciane Assunção, fotografias de Neire Leal, gravação de áudio de Rodrigo Lourenço e Werlei Santos e gravação de vídeocaptura e Sinc; Criat-te Produtora. A gravação teve participações especiais de Lecy Geovane, Bruno Lopes, Nito Landau, Rei Batuque e Grupo Bloco Show G Juventude Polícia.

A apresentação de abertura, do belíssimo Show de lançamento do DVDCD, foi feita pelo poeta Gonzaga Medeiros. A produção executiva ficou a cargo da Almazen Produtora, direção de Marluce Albino, assistência de produção de Luciane Assunção e Áthila Sousa, produção de arte de Deborah Cabral, direção de palco de Rodrigo Lourenço (Ratão), sonorização a cargo de Supersom BH, tendo no palco os músicos Sanráh na guitarra, violão e voz, Davi Lennes no baixo, Leo Moura no saxofone e flauta, Flávio Barreto nos teclados, Luciano Corrêa na bateria, Vinícius Motta e Davi Lannes nos backing vocals, com a presença do Grupo Bloco Show Juventude Polícia.
O show no Teatro da Biblioteca Pública Estadual, como se esperava, foi realizado com casa cheia.
Nascido em Brumadinho\MG – Brasil, o cantor, compositor e instrumentista Sanráh vai levando, com muito orgulho, a cultura de Minas Gerais para o cenário Nacional.
Um boa pedida é conhecer o CD\DVD deste artista mineiro. Pedidos poderão ser feitos através do e-mail: angelosanrah@gmail.com ou pelos telefones: (31) 9999.1990 e 8568.1990. Site: http://www.sanrah.com/


sábado, 3 de julho de 2010

Tontinho - Conto de Rogério Salgado - Música Incidental: "Bloco da Solidão" de Evaldo Gouveia e Jair Amorim


Ele vinha cambaleando pela rua, destino certo, onde será que ele iria? Seu nome era Tontinho. Não, não era apelido. Todo mundo só o conhecia por esse nome.Sua vida era um livro aberto sem mistérios, sem grandes coisas. Apenas se sabia que ele era proprietário de um barraco lá no morro do Salgueiro, era casado com Maricota, que era lavadeira e costureira e que era ela quem sustentava a casa e os vícios de Tontinho.
- Vê se toma vergonha na cara, Seu Tontinho, senão qualquer dia eu te largo e dou sumiço! – dizia a negra forte, de lábios grossos e de dentes muito brancos, que aos poucos estavam ficando amarelados pela nicotina do cigarro. Tontinho cambaleava, virando-se para ela, dizia: - Guenta as pontas, nêga. Eu vou arrumar um emprego e vou te dar uma vida de princesa. – dizia ele, soltando um beijo para aquela mulher que era a razão de sua vida, por dois motivos: era a mulher amada e seu ganha-pão. Ela apenas dizia em altos brados: - Some daqui, seu nego beberrão. Vai fazer três anos que você me diz a mesma merda e nunca muda de vida. Entra ano e sai ano e a burra de carga aqui, nessa bacia de roupa ou com as costas doendo de tanto ficar cosendo na máquina. Vá-se embora, antes que eu perca a paciência e o curo desse ferro com essa água de sabão e sanitária.

E Tontinho ia pelas ruas da cidade perguntando a quem passasse: - Ei, você não tá precisando de empregado não? Olha, eu sei fazer muita coisa... – e não terminava, pois a pessoa já estava indo longe e alguns até xingavam uns nomes de arrepiar os cabelos sem henê de Maricota, se ela os ouvisse.E a vida continuava. Tinha festa lá no morro, ensaio de escola de samba. Estava perto do carnaval e lá no morro tudo era motivo para festa e onde havia festa, lá estava Tontinho, pois onde já se viu festa no morro sem um capeta (cachaça) pra esquentar. Tontinho já tinha tentado ser muitas coisas na vida: engraxate, garçon, lixeiro, sapateiro, vendedor de ferro velho, carpinteiro e etc... mas, a vocação dele era ser passista da Escola de Samba do Salgueiro. Esse era o sonho de Tontinho desde que era rapazola. E ia a todos os ensaios da Escola só para aprender a dançar no compasso do samba. A cuíca gemia, o pandeiro chorava, os tambores pulavam e Tontinho dançava, sem dispensar a sua fiel amiga e companheira: a cachacinha debaixo do braço. Ele dançava, dizendo já de ferro: - Esse ano tem jeito não. O Salgueiro vai ser campeão. – E dançava no meio do povo. Tirava as mulatas pra dançar, um verdadeiro mestre sala, trazendo como porta-estandarte, a capeta, como ele chamava. Até que dava três da manhã, Maricota acordava. Conseguia dormir porque já estava acostumada a dormir com toda aquela algazarra. Olhava pro lado da esteira, não via Tontinho, mudava uma roupa qualquer e ia pro meio do povo. Pegava Tontinho, que já estava caíndo e levando mil pisadas daqueles negros que deixavam de comer para comprar fantasia. Maricota era uma negra falsa, pois detestava samba. Jamais soubera se requebrar, como todas as moças de sua época sabiam encantar quem as visse dançando. E ao chegar perto do barraco, molhava a cara dele com a água do poço, que já deixara preparada antes de sair à procura do mestre sala frustrado. Depois o levava para dentro e o deixava dormir. E dormia também, cansada pelo dia inteiro na bacia de roupa. Levantava as mãos pro céu agradecendo a Deus por não ter filhos, pois se os tivesse, estaria naquele momento, pedindo a Deus a morte.
E no dia seguinte, o domingo se fazia cheio de sol. Tontinho pegava a única coisa de valor que tinha: sua bola de couro e ia pro campo. Saía de casa com os ouvidos cheios de broncas de Maricota. - Pobre Maricota, mas eu vou dispensar meu futebolzinho pra ficar em casa ganhando bronca? Afinal, hoje é domingo e é dia de se divertir. – dizia ele. Mas então, por que Maricota também não ia se divertir? Porque ela só ficava ali naquela bacia de roupa, que fosse domingo ou segunda? Pensando daquela maneira, Tontinho largou a pelada e chegou perto de Tadeu, um negão alto, que era mestre sala da Salgueiro, para pedir um cigarro e elogiar as manobras do passista. Depois, saiu e foi sentar-se na beira do campinho, para ver a molecada jogar. Não tinha vontade e nem forças para correr. Pra que então ficar ali no meio daqueles bestas, atrapalhando, ao invés de ajudar? Então ele pensou em Maricota. Só ela trabalhava, só ela se esforçava pra ter o pão de cada dia, só ela se cansava, só ela ia dormir tarde e acordava cedo. O que ele estava fazendo ali? Só estava atrapalhando, comendo o pão que ela, somente ela tinha o direito de comer, bebendo a água que só ela tinha o direito de beber, mas não fazendo uma coisa que só ele tinha o dever de fazer: dar o sustento àquela mulher de ferro.
Tontinho levantou-se do gramado, pegou a bola de couro e foi embora, deixando os amigos dele com raiva, pois Tontinho era o único que tinha bola de couro nas redondezas. Mas nem as reclamações dos amigos Tontinho escutou. Ele apenas escutava o que a sua consciência lhe dizia.
"- Pô, Tontinho, vê se arruma um emprego, vai ser lavador de hospital, vendedor de garrafa, moleque de recado, mas não deixa sua Maricota morrer não. ela vai acabar morrendo de tanto trabalhar e pra te sustentar. Vê se te enxerga, sô, ou então vai embora do barraco."
Aquela sentença que ele mesmo levava para si, não precisaria passar daquele dia. Ele sabia que não iria conseguir emprego, nem no dia seguinte, nem na semana seguinte e nem no ano seguinte. Chegou em casa pela primeira vez num dia de domingo, sem cheiro de álcool na boca murcha e velha, num homem que poderia ser novo, se não fosse a Capeta. Tinha apenas 40 anos. Entrou, guardou a bola num canto do barraco, sentou-se no chão e começou a olhar para Maricota, que pisava agilmente na máquina de costura para que ela não parasse de trabalhar, pois como ela, já deveria estar supercansada. Quando ela notou que estava sendo observada, olhou para trás e disse espantada:
- Cê tá doente, Tontinho?
- Nunca tive tão bão. – disse ele, arrancando uma palha de esteira, botando na boca.
- Então algum bicho te mordeu, ocê nunca ficou aqui me espionando.
- Né nada não, Cotinha, continua seu serviço.
- Ai, ai, cê tá doente memo, Tontinho, acho que vou pedir o termômetro à Dona Lolô. Desde quando ocê me chamou de Cotinha? Esses dengo foi só até casar, depois...
- Já falei, mulhé, eu num tô doente não. Eu quero é te falar uma coisa importante.
- Pode falar. Eu só quero vê o que um beberrão como ocê tem de tão importante pra falar.
- Cotinha, eu vou embora.
Fez-se um silêncio total. Maricota ficou muda. Tontinho abaixou a cabeça, logo depois ele se levantou, pegou apenas alguns farrapos de roupa, pôs num pano, fez uma trouxa e sem falar nada, nem uma palavra com Maricota, ele abriu a porta e se foi. Passado alguns minutos, Maricota saiu feito uma louca gritando pelo morro todo:
- Tontinho, Tontinho, vai embora não. Fica aqui comigo, Tontinho. Sua nega num vive sem ocê. Volta... volta...
Ela foi se abaixando aos pouquinhos na grama, não contendo o choro.Apesar de toda a malandragem, ela amava aquele homem que tirava dela, o pão e a comida. Só se levantou dali quando Tadeu, o negão da Salgueiro, levantou-a pelo braço, perguntando o que tinha acontecido. Não tendo ninguém para consolá-la, ela resolveu desabafar suas mágoas naquele ombro de aço de Tadeu. Nisso, sai Tontinho do meio de um matagal, gritando:
- Ei, que negócio é esse? Nem bem saí de casa e ocê já tá dando em cima da minha nega, compadre?
- Espera aí, eu não estou dando em cima de ninguém não...
- E cala essa matraca que só canta desafinado. Anda, vai andando e depressa...
Tadeu fez menção de dar umas bolachas na cara de Tontinho, mas, ao olhar para Maricota, ele viu nos olhos dela que ela não queria que o fizesse.
- Que bão que ocê voltou, Tontinho! – disse Maricota, abraçando o marido.
- Calma, Cotinha, o caso aqui é pra home, mulhé não se mete. Chega pra lá, depois a gente conversa. Como é, ô meu? Tá com medo de levar umas boas?
Novamente Tadeu fez menção de bater em Tontinho e mais uma vez, Maricota interferiu.
- Não, por favor, não bate nele não. Não vê que ele tá bêbado?
- Eu bêbado. Sai pra lá, Cotinha, senão ocê vai apanhar também! - disse Tontinho, preparando para dar um soco.
- Vamo pra casa, Tontinho. Ocê agora vai ter que brigar é comigo! Vamo logo, antes que eu perca a paciência, ouviu bem? – disse Maricota aos berros. Como desobedecer àquelas ordens? Na mesma hora, Tontinho pegou a trouxa que se encontrava no chão, se apoiou em Maricota e foi pra casa com ela. Chegando em casa, a feição de mulher de ferro sumiu do rosto de Maricota, que agradecida a Tontinho por não ter ido embora, abraçou-o e beijou-o como há muito não fazia.
- Ocê ia memo embora, Tontinho? – perguntou ela, acariciando aquele rosto molhado de suor, misturado com cachaça.
- Ia sim, Cotinha. Mas ao descer o morro, ouvi seus berros e não tive coragem.
- Mas por que ocê ia embora, meu beberrão? Aqui ocê não tem teto e comida?
- Por causa disso memo é que eu ia embora. Num agüentava mais vê ocê trabalhando e eu vagabundeando. Ninguém me dá emprego, Cotinha. Eu canso de pedir na rua, mas ninguém dá.
- Meu Tontinho. – disse ela, beijando-o outra vez.
Naquela noite, eles se amaram até a lua desaparecer atrás do morro do Salgueiro. Tudo silêncio, tudo paz. Somente o barulho do cantar dos grilos, o coaxar dos sapos e as respirações ofegantes de Maricota e Tontinho se confundindo com o quebrar das palhas da esteira.
O dia de segunda-feira amanheceu chuvoso e por isso Maricota não lavou roupa. Tontinho não saiu de casa e por isso pediu a Maricota que ensinasse ele a coser a roupa que precisava só de costura de mão. E assim eles passaram o dia, costurando e muitas vezes paravam de fazer algo e ficavam se olhando minutos a fio, como se estivessem se descobrindo agora. Maricota ganhou um dinheirinho extra e comprou um tergal para fazer um terno pra Tontinho, pra ver se melhor vestido, ele encontrava emprego. Maricota levou uma semana para fazer o tal terno e um dia, quando estava terminando de fazer a bainha na perna da calça, era bem cedinho, ela sentiu uma vontade imensa de vomitar. E por aí foi, todos os dias, ao se levantar, sentia aquele mesmo enjôo e botava tudo pra fora. Dias depois, Maricota ficou sabendo que estava grávida. E agora? Mais uma boca, leite que custa tão caro. Tontinho ficou contente. Nunca tinha sido pai. Agora mais do que nunca, tinha que arranjar emprego. Comprou uns pacotinhos de Q-suco e fez picolé pra vender. O dinheiro não era muito, mas aos poucos, Maricota foi comprando as fazendinhas e fazendo o enxoval do bebê. Era simples, apenas com alguns bordados que Maricota fez com muito carinho. Tontinho conseguiu comprar frutas e já fazia picolé sem ser água pura. Mais um dinheirinho entrava. Tontinho queria ver se levava Maricota para ter o bebê no hospital, mas era muito caro. A única parteira que tinha lá no morro estava doente. No dia 12 de março bem cedinho, Maricota começou a sentir as dores do parto. Tinha chegado a hora. Maricota gritava, sentia mil dores. Dona Lolô saiu do barraco e foi procurar um médico que fizesse o parto de graça. Enquanto isso, o filho de Tontinho saía do ventre de Maricota. Ela, como sabia alguma coisa sobre parto, ia orientando Tontinho. Nasceu o bebê. Quem fez o parto foi Tontinho. O médico que havia chegado um pouco antes, havia assistido com que coragem aquele pai cortava o cordão umbilical do filho, tirou a placenta e deu o bebê a dona Lolô. Maricota estava feliz, apesar do sofrimento e da falta de materiais e medicamentos. O médico terminou o serviço e elogiou a coragem de Tontinho.
Quando Maricota já estava dormindo, o médico convidou Tontinho para trabalhar no hospital dele como servente. A alegria de Tontinho aumentou. Segurou o filho no colo e o chamou de Salvador. Sim, ele veio ao mundo salvar Maricota e Tontinho da miséria.
Assim como todo herói, Salvador morreu no dia 23 de abril. Morreu de crupe. Maricota já não era a mesma de antes. Para não pensar na morte do filho, Tontinho trabalhava o dia todo e não podia ficar em casa para consolar Maricota, que aos poucos ia definhando no trabalho, quase não comia e um dia, quando Tontinho chegou em casa, encontrou Maricota da cama. Uma febre tão alta que só ao se chegar perto se sentia a quentura. Tontinho foi correndo chamar o médico e na volta, Maricota vomitava sangue. O médico fez tudo que pôde. Na ida para o hospital, Maricota morreu. Morreu pronunciando o nome de Tontinho e de Salvador. Era isso, ela não sabia se ficava aqui para ajudar o seu Tontinho ou se ia pro céu pra cuidar de Salvador.
Tontinho trabalhou feito um burro de carga naquele final de ano e comprou uma fantasia pro carnaval. Ele ia ser passista da Salgueiro, mestre sala, com uma bonita porta-bandeira, com uma música de sucesso. A Salgueiro ia vencer o carnaval, ele sabia.
À noite, no barraco, ele olhava a máquina de costura de Maricota e sentava nela e punha-se a pedalar. Pregava os paetês e as miçangas como um profissional e bebia com fúria a sua capeta, que agora nem tinha mais sentido. Parecia que só tinha sentido beber quando Maricota ia buscá-lo no ensaio às 3 da manhã e vivia reclamando com ele, chamando-o de beberrão.
Que dias felizes ele tinha passado junto com Maricota, aquela mulher de ferro e fibra, de meiguice e estupidez, de amor e de ódio. Ficava horas e horas relembrando suas noites de amor com Maricota, o cantar dos grilos, o coaxar dos sapos e as palhas da esteira se quebrando pela violência daquele amor que os unia, daquela vontade imensa de possuir a única coisa que ele sabia que era realmente sua, mas que agora não mais existia.
O carnaval chegou. Tontinho não sabia o que era comida. Vivia o dia inteiro ensaiando, bordando, cantando a música da escola, bebendo sua capeta e lembrando de Maricota. Ah! Se ela o visse desfilando na avenida. Ela ia morrer de orgulho do Tontinho dela. A Salgueiro ia vencer, ia vencer em homenagem à Maricota e Salvador.Tontinho bebeu até o último instante. Chamaram o nome da escola e ela se prostrou na avenida. Mil aplausos se ouviam e gritos estridentes se confundiam com as vozes dos cantores da música da escola. Tontinho bailava no asfalto com graça e era aplaudido. Quando de repente, ele olhou para a porta-bandeira e viu Maricota no lugar de Olívia. Ela sorrindo, dançando divinamente. Depois, a imagem fugia e surgia Olívia de novo. Depois, via Maricota lá nas arquibancadas com Salvador no colo e aplaudindo a escola em desfile.
O desfile acabou, a escola ganhou e Tontinho foi à procura de Maricota e Salvador, que ele teimava em admitir que estavam no meio do povo. Já bêbado, ele cambaleava daqui e dali e via seus dois entes queridos para onde quer que olhasse.Foi pra beira do asfalto, os carros passando e ele tentando pará-los, pois cada um que passava, mostrava dentro deles a imagem da mulher amada e do filho querido. Daqui e dali, gritava o nome da mulher e os carros continuavam passando, fazendo tudo para não atropelá-lo. Sua fantasia tão linda tinha virado lixo, puro lixo. O rosto molhado de suor e de cachaça, os braços e as pernas sangrando dos tombos que levava ao cair, até que um fusca cheio de gente passou correndo, voando e levou a alma de Tontinho com ele. Tontinho caído no asfalto e a escola desfilando mais uma vez, pois ela tinha sido campeã do carnaval e a música feita por ele e Chaveco, premiada.
Enquanto a Salgueiro ganhava o carnaval, Tontinho ganhava algo mais do que isso. Ele ganhava a vida eterna.
"Angústia, solidão, um triste adeus em cada mão/ lá vai, meu bloco vai, só desse jeito é que ele sai/ na frente sigo eu, levo um estandarte de um amor/ um amor que se perdeu no carnaval, lá vai meu bloco/ e lá vou eu também, mais uma vez, sem ter ninguém/ no sábado e domingo, segunda e terça-feira/ e quarta-feira vem e o ano inteiro é todo assim/ por isso quando eu passar, batam palmas pra mim."
E os anjos bateram palmas pra ele, Tontinho, casado, pai e brasileiro e como eterna vocação: mestre - sala da Salgueiro.
Copyright © 1982: Rogério Salgado da Silva -Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 5.988 de14\12\73. Proibido a reprodução total, parcial ou adaptação comercial, sem autorização por escrito do autor. poetarogeriosalgado@yahoo.com.br

quinta-feira, 27 de maio de 2010

DISCUSSÃO DE OLEGÁRIO ALFREDO COM COSTA LEITE (UM MINEIRO E UM PARAIBANO)




Olegário Alfredo, o Mestre Gaio é, sem sombra de dúvidas, um dos maiores cordelistas deste país. Imaginem vocês, um embate amigável entre Olegário e José Costa Leite, paraibano, Mestre da literatura de cordel, hoje aos 82 anos. Publicado em 2003 pela Crisálida Livraria e Editora, Discussão de Olegário Alfredo com José Costa Leite (um mineiro e um paraibano), cordel que merece ser cada vez mais divulgado, pela imensa criatividade, segue reproduzido abaixo, para que vocês se deliciem com esta verdadeira obra prima da literatura de cordel. Boa leitura, amigos. (Rogério Salgado)


Olegário diz:
- Só como prato mineiro.
Costa Leite diz:
- O meu prato é nordestino.

Neste cordel vamos ver
Quem vai entrar pelo cano,
Olegário Alfredo é mineiro
Poeta bom, veterano
E José Costa Leite,
Poeta paraibano.

Olegário improvisando
Dentro dum legal esquema
Foi logo propondo o tema
E Costa Leite escutando
O assunto foi lhe agradando
Paraibano é certeiro
Tem assunto o dia inteiro
Quando se fala em comida
Olegário na partida:
Só como prato mineiro.


C.L.
- No Nordeste brasileiro
O povo come de tudo
Que às vezes fica pançudo
E o corpo meio banzeiro
No churrasco é o primeiro
Seja de gado bovino
Ou mesmo gado suíno
Mesmo na hora da ceia
Pra ficar de pança cheia
O meu prato é nordestino.


O A.
- Em Minas Gerais eu sapeco
Noite e dia na comilança
Como muito na festança
Carne de vaca e marreco
Se acha em qualquer boteco
O leite vem do leiteiro
A couve vem do terreiro
Domingo como patê
Por isso digo a você,
Só como prato mineiro.

C.L.
- No Nordeste o camarada
Na hora da refeição
Come filé de camarão
Emboca na “batucada”
E dentro da feijoada
Se bota os pés de um suíno
É comida de granfino
Na opinião do povo
No café cuscuz com ovo
O meu prato é nordestino.

O A.
- Sou igual uma pilastra
Aqui nas Minas Gerais
As coisas são naturais
Temos o queijo canastra
O chuchu na rama alastra
Nosso feijão é o tropeiro
O mexidão é de carreiro
Sobre a mesa é pão-de-queijo
Com doce chamado beijo
Só como prato mineiro.


C.L.
- Se o mineiro come bem
Churrasco e carne-de-sol
Mas aqui, se for “farol”
Carne de sol também tem
Na hora que a fome vem
A negrada entoa o hino
Pede um comer genuíno
Feijão preto e mocotó
Pra mim é do bom só-só
O meu prato é nordestino.

O. A.
- Depois da hora da missa
Angu com fubá de munho
Se come no mês de junho
Pão-de-queijo com lingüiça
O apetite logo atiça
Nosso prato derradeiro
Não será nunca o primeiro
A pinga no corpo abriga
Se o torresmo é de barriga
Só como prato mineiro.


C.L.
-E depois o ponche vem
De seriguela ou pitanga
De graviola ou manga
Que é gostoso também
Aqui não sofre ninguém
Só se for cabra mofino
Porque do gado bovino
Temos bife toda hora
Eu digo a quem vem de fora:
- O meu prato é nordestino.


O. A
- minha fome eu acabo
Ali perto do fogão
Farofa de cansanção
Com um frango no quiabo
Se come feito diabo
Vai varando o dia inteiro
Numa sombra do terreiro
Chupando jaboticaba
Até que à tarde se acaba
Só como prato mineiro.

C. L.
Sabemos que o boi fornece
Fígado, tripa e mocotó
Pra se comer numa mó
Daqui ninguém esquece
A turma que já conhece
De um comer super fino
O toucinho de suíno
Tem o sabor do nordeste
Comer de cabra da peste
O meu prato é nordestino.

O A.
-Em Minas Gerais digo a ter
Dentro da gastronomia
Paraíba não sabia
Que brotinho de bambu
Misturado no tutu
Não custa muito dinheiro
É gostoso por inteiro
Se vier lombinho assado
Eu degusto sossegado
Só como prato mineiro.



C.L.
- E os produtos do mar
Que invadem a região
Ostra, siri, camarão
Do povo da beira-mar
Mas a turma do lugar
Seguindo a voz do destino
Com as ordens do Divino
Fornece peixe pra gente
Comer em todo ambiente
O meu prato é nordestino.

O A.
- Mineiro é bom camarada
Cada qual é um pode-pode
Um na buchada de bode
O outro na couve rasgada
Com farinha e galinhada
Enche a pança o dia inteiro
Cada qual no seu poleiro
Pra viver muito mais
Aqui nas Minas Gerais
Só como prato mineiro.

C.L
- Nos peixes temos toninha
Garajuba ou corvina
Salmonete, abacatina
Temos cioba e tainha
A pescada ou pescadinha
É a chã do gado tourino
Fornece prato divino
Quem tem sabor de manjar
O nordeste é meu lugar
O meu prato é nordestino.



O.A
- Mineiro é bom de serviço
É por que ele come bem
Comer bem vai mais além
Costa Leite sabe disso
Manda descer um chouriço
Com pinga lá do barreiro
Lambicada no terreiro
A vida é um arrebol
Nada de colesterol
Só como prato mineiro.

C.L
- Café com leite bem cedo
E suco com perfeição
De laranja ou de limão
A gente toma sem medo
Seu conforto é um segredo
O povo diz, eu combino
O mocotó de um bovino
Dentro da fava ou feijão
Na hora da refeição
O meu prato é nordestino.

O A.
- A turma toda pipoca
Quando o dia é de peixada
Na mesa da mineirada
Tem o cascudo de loca
Cozido com mandioca
Com licor de pequizeiro
Que é pra puxar banzeiro
E invejar cabra da peste
Que vive lá no nordeste
Só como prato mineiro.


C.L.
- Carne de bode e torrada
Pra se comer com cerveja
Qualquer pessoa deseja
Uma cerveja gelada
Do bode faz-se a buchada
E na hora que toca o sino
É meio dia, eu combino
Sai buchada com feijão
E sai pitu com limão
O meu prato é nordestino.

O A.
- Nossa prosa ficou boa
Mineiro com paraibano
Cada qual é veterano
E a musa lhe abençoa
Deus lhe manda uma garoa
Paraíba é verdadeiro
Mineiro é bom companheiro
Manda fritar o jiló
Com pirão de mocotó
Só como prato mineiro.

C.L
- A gente come de tudo
Banana com leite e queijo
E se come caranguejo
Ou raspado ou cabeludo
Às vezes eu me ajudo
Com costelas de suínos
Num churrasco genuíno
Depois suco de acerola
Ou mesmo de graviola
O meu prato é nordestino.


O A.
- O mineiro na tabela
No frevo da fervedura
Chupando fruta madura
Carne-de-sol na panela
Galinha de cabidela
E por ser hospitaleiro
Diz para seu companheiro,
- Tá na hora de jantar
Um petisco a beliscar
Só como prato mineiro.

C.L.
- Comer pra um ou pra dois
Logo cedo é preparado
É cuscuz com bode assado
Se come cedo e depois
Feijão preto com arroz
Desde o tempo de menino
É comer genuíno
Com pé de porco e com bucho
De boi, comida de luxo
O meu prato é nordestino.

Houve empate em poesia
Ali naquele ambiente,
Se abraçaram os poetas
Olegário disse contente:
- A discussão ficou linda
O povo quer ouvir ainda
Outro debate da gente.

Outubro de 2003



José Costa Leite nasceu em 27 de julho de 1927, em Sapé/PB. Diz que nunca freqüentou a escola, tendo aprendido a ler soletrando folhetos de cordel. Em 1938, muda-se com a família para Pernambuco, fixando residência em Condado, cidade onde mora até hoje. Ainda criança, trabalha nas plantações de cana-de-açúcar e faz seus primeiros versos imitando o cordel. Em 1947, começa a vender folhetos nas feiras do interior e, em 1949, publica seus primeiros títulos: "Eduardo e Alzira" e "Discussão de José Costa com Manuel Vicente". Logo em seguida, improvisa-se xilógrafo, gravando na madeira a imagem que ilustra seu terceiro título, "O rapaz que virou bode". Torna-se, assim, um profissional polivalente, exercendo todas as atividades ligadas à literatura popular: é poeta, editor, ilustrador e continua a vender folhetos, de feira em feira. Autor de clássicos, verseja sobre praticamente todos os temas do cordel, sendo o autor de clássicos como “A Carta misteriosa do Padre Cícero Romão Batista”, “O dicionário do amor e Os dez mandamentos”, o “Pai Nosso e o Credo dos cachaceiros”. Além das histórias em verso, publica anualmente o “Calendário Brasileiro”, almanaque astrológico de 16 páginas contendo diversos conselhos práticos, de grande sucesso junto ao público. Denomina sua folhetaria “A Voz da Poesia Nordestina”. Em 1976, recebeu o Prêmio Leandro Gomes de Barros, da Universidade Regional do Nordeste, em Campina Grande/PB, pelo conjunto de sua obra, talvez a mais extensa da literatura de cordel brasileira, em número de títulos.
Suas xilogravuras ilustram inúmeros folhetos, seus e de outros poetas e ganhou status de obra de arte a partir dos anos 1960, quando passaram a ser publicadas em álbuns e expostas em museus, no Brasil e no exterior. Em 2005, José Costa Leite é o convidado especial de uma exposição realizada no Musée du Dessin et de Estampe Originale de Gravelines (França), onde também dá ateliês de xilogravura. Ao completar 80 anos, em 2007, foi homenageado na Paraíba, juntamente com o escritor Ariano Suassuna, e recebeu o título de "Patrimônio Vivo de Pernambuco", reconhecimento máximo de um artista de múltiplos talentos, que fez da poesia e da beleza a matéria-prima de seu labor. As informações sobre José Costa Leite constam em entrevistas dadas a Everardo Ramos .nos anos de 2000, 2005 e 2008.
Contato: Rua Dr. Júlio Correia, 223 – Condado – PE – Cep: 55.940-000

Olegário Alfredo é um dos mais conhecidos autores de literatura de cordel em Minas, já com mais de 100 livretos publicados sobre temas diversos, Olegário Alfredo, é também conhecido como Mestre Gaio. Mineiro de Teófilo Otoni, há anos vivendo em Belo Horizonte, Mestre Gaio diz que começou a se interessar pela literatura de cordel quando era criança e vivia em sua terra natal, por onde costumavam passar muitos cultores do gênero. “Foi ouvindo aqueles poetas, verdadeiros artistas do povo, que passei a ter vontade de também ser um deles. Com o passar do tempo comecei a escrever, fui me aprimorando, li tudo que consegui a respeito, e não parei mais”, conta. Olegário Alfredo é membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel e publicou em 2009 o cordel “Rogério Salgado, o poeta obstinado, que não deixa a poesia descansar”.
Contato: olegaras@mg.trt.gov.br

sábado, 24 de abril de 2010

Recados de Minas: pesquisa, musicalidade e poesia




A penúltima postagem que publiquei neste blog: Minas é uma festa! de Airton Guimarães gerou imensa curiosidade em relação a Minas, por artistas e não artistas do Brasil e do exterior; os quais me enviaram inúmeros e-mails, afirmando que tem muita vontade e, na primeira oportunidade, virão conhecer Minas Gerais. Portanto, sinto-me na responsabilidade de divulgar mais um expressivo trabalho: uma raridade curtida num processo de pesquisa, que de forma literária e musical; com sensibilidade poética, inspiração e talento descortina o estado mineiro, ao dar o seu recado.
Com certeza agradará turistas, antropólogos, poetas, músicos, historiadores, pesquisadores e outros, de muitos lugares. Trata-se do Cd Recados de Minas, parceria perfeita entre o compositor Zebeto Corrêa e o poeta Caio Junqueira Maciel. O Cd é o terceiro de uma parceria que já rendeu o Cd Trilhas da literatura brasileira e o livro/Cd infantil Era uma voz: sonetos só para netos.
O trabalho fonográfico, que apresenta um painel com a essência do espírito mineiro, traz 12 canções e abrange de forma bem sensível, os encantos de Minas Gerais: seus meninos, os artistas, a culinária, as cidadezinhas do interior, o pão de queijo, o mercado central ... Cores, sabores, rios, ruas e amores... Lirismo e tradição. Cerca de cem cidades mineiras são citadas nas canções, que fazem homenagens a escritores e artistas em geral, oriundos de municípios como Ituiutaba (Luiz Vilela), Cataguases (Humberto Mauro e o Grupo Verde), Miraí (Ataulfo Alves), Coluna (Carlos Herculano Lopes), Ubá (Ari Barroso), Aiuruoca (Dantas Mota).
Recados de Minas, projeto realizado com os benefícios da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Estado de Minas Gerais, com patrocínio da Madepal, tem produção, arranjos, teclados, guitarras e violões de aço e técnico de gravação, a cargo de Gaugin; violões de aço de Zebeto Corrêa; arranjos de base de Beto Lino; tendo participações de Daniel Ribeiro, André Siqueira, Bilora e Sérgio Danilo; gravado no Studio Z e Gênesis, foto e selo de Pedro Zorzall; foto da contracapa de Solange Souza; assessoria fonográfica aos cuidados da Criato e projeto gráfico de Pedro Diamantino. Zebeto Corrêa e Caio Junqueira há anos vem realizando um trabalho cultural interativo, aproximando música e literatura, tornando mais íntimas as relações entre o popular e o erudito, entre a tradição e a modernidade.
Zebeto Corrêa é um cantor, compositor e instrumentista que vem se destacando dentro do cenário da Música Popular Brasileira, com um trabalho coerente e sólido, sempre pautado pela qualidade e pelo bom gosto de letras, arranjos e interpretação. Artista premiadíssimo em festivais de música pelo Brasil, já conquistou mais de 200 prêmios em diversos estados brasileiros. Começou sua trajetória musical com a banda “Fogo no circo”, quando gravou seu primeiro disco, que levou o nome da banda.
O professor de literatura e editor Luiz Carlos Junqueira Maciel adotou o pseudônimo de Caio desde seu primeiro livro de poemas, Sonetos Dissonantes, publicado em 1980. Tem várias parcerias com músicos de Minas Gerais, além de Zebeto Corrêa. Autor de ensaios e livros didáticos nasceu em 1952, em Cruzília, Sul de Minas Gerais. Formou-se em Letras, pela UFMG, onde fez o mestrado, dissertando sobre a poesia de Dantas Mota.
Vale a pena adquirir O Cd Recados de Minas, trabalho maravilhoso, música e poesia que revelam a alma mineira.

Contatos: zebetocorrea@uol.com.br - caiojmaciel@hotmail.com

sábado, 20 de março de 2010

Choro Cantado: a qualidade vocal e musical, num resgate histórico do choro.


Lígia Jacques, uma das mais competentes intérpretes da nossa tão desgastada MPB, lança seu segundo CD Choro Cantado - justa homenagem à Ademilde Fonseca, uma das maiores cantoras desse país.
Choro Cantado reúne cinco clássicos do repertório de Ademilde Fonseca e cinco faixas inéditas. Traz citações musicais que reverenciam mestres do choro, como Ernesto Nazareth, Chiquinha Gonzaga, Pixinguinha e o contemporâneo Guinga. A proposta é registrar choros melodicamente ricos, mas que também se destacam pela qualidade das letras. Em algumas faixas conta com quatro vozes feitas por Lígia Jacques para formar um quarteto desdobrado em oito canais de gravação. Choro Barroco, faixa instrumental que deu título ao primeiro CD da cantora e “Satan” de Chiquinha Gonzaga ganharam letras do compositor Jorge Fernando dos Santos.
Com arranjos e direção musical de Rogério Leonel, o CD traz “Água de Moringa”, “Domingueiro” e “Romanceando” compostas por uma das maiores duplas de compositores mineiros: Valter Braga e Jorge Fernando dos Santos; “Odeon” de Ernesto Nazareth, Hubaldo e Vinícius de Moraes; ”Ingênuo” de Pixinguinha, Benedito Lacerda e Paulo César Pinheiro; “Pedacinhos do Céu” de Waldir Azevedo e Miguel Lima; “Choro Barroco” de Rogério Leonel e Jorge Fernando dos Santos; “Tico Tico no Fubá” de Zequinha de Abreu e Eurico Barreiros; “Satan” de Chiquinha Gonzaga e Jorge Fernando dos Santos; e “Títulos de Nobreza – Ademilde no choro” de João Bosco e Aldir Blanc.
Natural de Belo Horizonte, Ligia Jacques sempre deu preferência à interpretações de autores mineiros, tais como: Rogério Leonel, Juarez Moreira, Ricardo Faria, Toninho Camargos, dentre outros; também exalta os consagrados, entre eles: Tom Jobim, Chico Buarque, Dori Caymmi e Pixinguinha. Participou de mais de 20 discos de outros artistas, como Marcus Viana, Ladston do Nascimento, Rubinho do Vale, Titi Walter e Célio Balona. Além de participar de concertos e shows dos músicos Clara Sverner e Guinga.
Gravado em 2009, no estúdio Fábrica de Música, com recursos do Fundo Municipal de Cultura de Belo Horizonte, Choro Cantado traz Rogério Leonel nos violões, direção artística de Jairo de Lara, flautista e saxofonista em várias faixas. Também participam do CD: Milton Ramos no contrabaixo acústico e Serginho Silva nas percussões. A produção executiva é de Tião Rodrigues, a belíssima capa que nos lembra os antigos LPs e traz uma breve história do choro é uma concepção de Jorge Fernando dos Santos, com arte do competente Adriano Alves e as gravações e mixagem foram feitas por Jairo de Lara e Eloísio Oliveira. O disco tem ainda as participações especiais de Ausier Vinícius no cavaquinho, Celso Adolfo no vocal e Hudson Brasil no bandolim.
Choro Cantado contou com uma equipe de peso. Foi trabalhado numa perspectiva de resgate histórico do choro e é, sem sombra de dúvidas, um dos melhores trabalhos musicais lançados no mercado fonográfico neste início de 2010. Feito com esmero, o qual recomendo a todos que gostam de uma boa música e de uma voz de veludo a massagear os tímpanos.

Contatos para pedidos de CDs e shows poderão ser feitos através do e-mail:
tiaoproducao@ig.com.br e ligiajacques@hotmail.com



quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Minas é Uma Festa! de Airton Guimarães, para quem quer conhecer um pouco mais de Minas Gerais.



“Minas melhor lugar para amar
Minas não há mar
mas Minas Gerais tem tudo
que a gente não vê
em nenhum lugar/(...)”
Sanráh

É bem coisa de mineiro economizar o ano inteiro para fazer turismo fora de seu estado e, na maioria das vezes, conhecer pouco ou nada as belezas e as riquezas turísticas/culturais que Minas tem para oferecer.
Talvez tenha sido este, um dos bons motivos pelo qual o escritor e jornalista, Airton Guimarães, publicou o livro Minas é uma festa! (Edição do Autor); com o incentivo da CEMIG, através da Lei Rouanet. O livro é uma deliciosa viagem por esse estado festeiro.

Em sua pesquisa, o autor explora os ciclos Natalino, Carnavalesco, da Quaresma, do Divino, Junino e do Rosário. Descobre as Festas Profanas, o Turismo Religioso, a Festa de São Geraldo em Curvelo. Fala da festa que o esporte é para seus torcedores; da Festa do Cavalo em Nova Lima, a Vesperata de Diamantina, a Cavalhada de Mateus Leme, a Expozebu de Uberaba, a Festa do Congado de Uberlândia, a Sinfonia das Águas de Poços de Caldas, o Arraial de Belô, a Festa de Agosto de Montes Claros, os Encontros de Folias de Reis em Campos Altos e as Festas de Juiz de Fora. O leitor, também, encontrará um glossário em ordem alfabética de quase todas as festas que acontecem em Minas Gerais, município por município, incluindo telefones de contato. O livro vem ilustrado por fotos do fotógrafo Henry Yu.
Minas é uma festa! é um livro que deveria ser lido por turistas e por mineiros que gostam de seu estado, mas desejam conhecê-lo um pouco mais: suas festas e suas riquezas culturais.
Airton Guimarães é jornalista formado pela PUC Minas. É escritor há 30 anos. Dentre os seus livros publicados, estão: O Conto Infanto-juvenil, Golpe, à Meia Luz, Contos da Terra do Conto e No Tempo do Independência, dentre outros. Airton trabalhou durante muitos anos na antiga 2ª Seção, editoria de Cultura do jornal Estado de Minas tendo como editores Geraldo Magalhães e Roberto Drummond. Além de repórter, foi responsável pela páginas de livros.
Quem quiser conhecer Minas através do livro Minas é uma festa!, é só entrar em contato com o autor pelo e-mail: : airgui@terra.com.br ou pelo telefone (31) 9102.8158.