terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Musikaligrafia: a poesia musical de Kiko Ferreira




















Paul McCartney cantou ao mundo que: “Ébano e Marfim/ vivem juntos em perfeita harmonia,/lado a lado no teclado do meu piano.” Canção esta que inspirou uma belíssima letra escrita por Milton Nascimento, musicada por Tunay em “Certas canções”.
São raras criativas criações e inspirações, como essas, que me fazem arrepiar. E essa deliciosa sensação de frio na espinha experimentei novamente quando li o livro de poemas: Musikaligrafia, (Editora Scriptum), de Kiko Ferreira.
A sensibilidade deste poeta é dessas que só encontramos em mentes complexamente leves. Sua poesia tem alma, metáforas, imagens e muito mais a ser decifrado nas entrelinhas de cada poema. Com certeza agradará a todos, inclusive aquele leitor de gosto mais refinado.
Escrito nos últimos dois anos, Musikaligrafia traz interessantes diálogos da música com a poesia. Nele, o autor enxuga palavras ao mesmo tempo em que deixa escorrer reflexões, ao longo de suas 88 páginas. O resultado foi um dos melhores livros de poesia publicados neste ano de 2009. Vejamos: “entre ponto e ponto/entre nota e verso/entre dentes/entre mentes/entre tantos sucessos/soluço e solidão” - “tudo muito culto./tudo muito curto./aparado curto/aparado/mestrado/calculado/doutorado” – “antenas/entre/refrões/de incertas canções/que não ouço/m a i s”
A concepção gráfica é de Fernanda Moraes que sugere, no contexto de sua criação, tanto um caderno de caligrafia, desses que se usava na escola para ensinar a escrever bonitinho, quanto à força do pentagrama musical. As páginas pares são deixadas aos leitores: profissionais ou aprendizes, para que possam utilizá-las, como melhor lhes convier, e se acharem necessário nelas escreverem suas partituras pessoais, já que o poema vem nas páginas ímpares.
Apesar da poesia de Kiko Ferreira dispensar apresentações, o livro vem com orelhas assinadas por Zeca Baleiro e Alícia.
Cohen e sua musa, ou um encontro de Cohen & Joplin no Chelsea Hotel, tudo isso pode ser motivo para um bom poema e nesse caso, poemas da melhor qualidade estética, com sutil musicalidade em sua leitura. O último poema a ser composto para o livro, inspirado no poema escrito para a saudosa pianista Glória Salgado, nos diz: “il primo piano:/plano de memória/toda tecla/plena de história/melodia/em/branco & preto/sete notas/e/suas ancestrais/em pauta/no livro salgado/da saudade”.
Kiko Ferreira é mineiro de Belo Horizonte e escreve desde os anos 70, em revistas e jornais da capital mineira. Atualmente é colaborador do jornal Estado de Minas, das revistas Hit e Ragga e é colunista da revista de economia Mercado Comum. Sua principal atividade é o radialismo. Responde pela programação da Rádio Guarani FM, emissora segmentada mineira - dedicada à boa música e à cultura. Tem trajetória de mais de 30 anos na área cultural, com atuação em rádio, jornal, televisão e projetos culturais. Na literatura, começou em 1982, com o independente Cordiana e já lançou Cio em Setembro (1989), Beijo Noir (1996), Belo Blue (1987, dentro da coleção Poesia Orbital, que comemorou os 100 anos de BH), Solo de Kalimba (2003) e Stet (2007). Participou de diversas coletâneas e foi publicado em veículos como Suplemento Literário de Minas Gerais, Mulheres Emergentes, livro síntese do projeto Terças Poéticas e muitos outros. É parceiro de Sérgio Moreira, Affonsinho, Gilvan de Oliveira e Danni Calixto.Musikaligrafia é um livro que se ouve com os olhos e se lê com os ouvidos.
Contatos: kiko2901@terra.com.br (autor) – scriptum@scriptum.com.br (editora).

sábado, 31 de outubro de 2009

Poesia Sonora – História e desdobramentos de uma vanguarda poética: de Brenda Marques Pena



Quando em novembro 1968 John Lennon e Yoko Ono lançaram o LP Two Virgins, album experimental com gravações caseiras foi um escândalo, a principio, pela capa, na qual apareciam nus. Entre outras coisas, o disco trazia gritos do casal, projetados através de canos PVC. John gritava e utilizava, ali, a técnica terapêutica do grito primal de Arthur Janov. Possivelmente ali estaria uma bela demonstração de poesia sonora. Por que não?
Após encontrar, depois de quatro anos, entre papéis de sua estante, o cartaz e o catálogo do Festival Internacional de Poesia Sonora, a escritora, poeta e jornalista Brenda Marques Pena sentiu-se instigada a percorrer esse caminho e pesquisar sobre o tema. Fruto de uma dissertação de mestrado para a UFMG surge Poesia Sonora – História e desdobramentos de uma vanguarda poética (Tradição Planalto).
Consciente de que são escassos os trabalhos de invistigação sobre a poesia sonora, Brenda Marques Pena, mestre em literatura e sistemas semióticos, com ousadia, dinamismo e inteligência não deixou-se intimidar e trouxe a público um importante trabalho de pesquisa, o qual por certo, muito contribuirá com as futuras pesquisas que tratarem do assunto.
Um dos pontos fortes do livro foi a capacidade que a autora teve, ao realizar um trabalho transdisciplinar, já que sua pesquisa perpassa, principalmente, pela música, cinema, poesia, história e artes plásticas; para oferecer ao leitor um refinado panorama histórico, permeado de complexidades que sustentam uma didática poética, que se faz agradável à leitura de cada capítulo. As informações, tão bem pontuadas, fazem de Brenda, uma pesquisadora com requintes de historiadora. Portanto, não é gratuita a maneira pela qual, a mesma é chamada de multifacetária.
Os poetas Stephane Mallarmé, Ezra Pound, Oswald de Andrade e James Joyce, os músicos Anton Webern e John Cage e os pintores e escultores Kasimir Malevich, Piet Mondrian e Marcel Duchamp, além do cineasta Serguei Eisenstein, citados no livro, são alguns dos artistas que muito influenciaram a poesia sonora.
O saudoso poeta e ensaista paulista Philadelpho Menezes (1960-2000), principal nome da poesia sonora no Brasil, foi uma das referências mais importantes na pesquisa de Brenda Mars.
Poesia Sonora – História e desdobramentos de uma vanguarda poética traz entrevistas com Boris Shnaiderman, crítico literário e tradutor de Maiakovski; e com os poetas e pesquisadores Lúcio Agra, Marcelo Dolabela, Ricardo Aleixo, Vera Casa Nova e Wilton Azevedo.
Poesia Sonora – História e desdobramentos de uma vanguarda poética vai fundo numa pesquisa minuciosa que, servirá como uma das maiores referências sobre o assunto para estudos futuros.
Brenda Marques Pena é presidente do Instituto Imersão Latina (IMEL) e cônsul de Poetas del Mundo em Belo Horizonte. Publicou “O ritual da mulher poligrota” no livro Letras de Babel 4 (abrace - 2009). É uma das participantes de Mulheres no Banquete de Eros/Mujeres en el Banquete de Eros (abrace – 2008). Tem na bagagem apresentações sobre o assunto no Brasil, Cuba, Venezuela, Argentina, Chile, Estados Unidos e França. Foi uma das palestrantes no V Belô Poético – Encontro Nacional de Poesia de Belo Horizonte em 2009, participou da coletânea Poetas En/Cena 3 (Belô Poético – 2009) e é a organizadora do livro Nós da Poesia (All Print – 2009).
Poesia Sonora – História e desdobramentos de uma vanguarda poética é uma obra de extrema importância para quem pesquisa poesia em todos os aspectos.
Contatos: brendajornalista@gmail.com (autora) – contato@tradicaoplanalto.com.br (Editora).

sábado, 5 de setembro de 2009

RAM surge com o melhor do rock progressivo


A Banda RAM vem a público mostrar que quatro caras, amantes do rock, podem conseguir fazer música de qualidade na capital mineira e torná-la universal. E nesse desafio lançam um Cd demo, rock progressivo dos bons, com cinco músicas gravadas e com o propósito de quem quer levar ao público, um trabalho musical dos melhores.
RAM caracteriza-se por apresentações ecléticas, que vão do folk ao fusion experimental, passando pelo soul e rock. A proposta é produzir um rock n´ roll espontâneo, portanto, sem a observância de uma linha rígida de pensamento.
A sagacidade desses jovens roqueiros, quando manuseiam os seus instrumentos musicais, revela rara aptidão. A afinidade que demonstram ter com o jazz e blue, também, contribui para que eles se afirmem no universo do rock com o talento, criatividade e a competência, dos bons roqueiros que se tem notícia.
Segundo os próprios componentes da Banda: “A naturalidade visível nas nossas composições, letras, arranjos e performances é o que legitima o grupo como autêntico rock n´ roll (...) nos encantamos pelo nosso feeling, causando também aquela estranheza inicial frente ao não óbvio.”
Coincidência ou não, RAM é o título do segundo álbum solo lançado pelo ex-beatle Paul McCartney em 1971. O álbum tem suas músicas escritas por Paul e sua mulher Linda McCartney.
E com uma proposta nova, a Banda RAM vem se destacando no cenário mineiro do rock, tocando nos principais espaços da cidade, dentre os quais estão: A obra, Stonehenge, Matriz, Pau e Pedra, Studio Nafta e Espaço rock bar, além de importantes eventos culturais, como o festival sul-americano Grito rock, o periódico Quarta Cultural, realizado na Estação Central do Metrô, o BH Indie Music, o Rock no Parque, evento beneficente que lotou o Parque Ecológico da Cidade Nova e ainda o Camping & rock. Na mídia especializada, além de receber boas críticas em zines virtuais, o RAM já foi entrevistado e teve obras executadas nos programas Brazilian Rock Stoner, Solid Rock Blues e Solid Rock Live, Expresso e A hora do Dinossauro (rádio UFMG educativa; A Hora do Rock, webradio Stay Rock,, Sem Jabá, Estrada 55, de Ricardo Loureiro, transmitido pela http://www.arwtv.com.br/, pela www.maremanguinhos.fiocruz.br/html e pela Rádio Everson Paladini FM 95,1 de Santa Catarina) e ainda no argentino Sin Fin, exibido pela FM.San Javier- 90.1mhz / San Fernando.
Composta por Jackson Abacatu na bateria e percussão, Paim na voz, guitarra, gaita e teclados, Ricardo Righi no baixo e voz, e Paulo Almeida na guitarra; a Banda prepara um álbum musical e dois videoclips e produzidos pelo animador e baterista Jackson Abacatu, vencedor nacional do festival virtual Vídeo Obstrução.
Por enquanto, o RAM disponibilizou uma faixa, “The white rat and improvised hit”, para a compilação Brazilian Blues, produzido pelo músico, produtor e radialista Cézar Heavy. A mesma faixa faz parte do curta-metragem Ludcanti show, de Renato Gaia.
Vale a pena conhecer essa rapaziada, conectando http://www.myspace.com/bandaram%20-%20ram-banda.conexaovivo.com.br - oinovosom.com.br/ram e ramrockband@gmail.com, ou mesmo conhecer o Cd demo. Alguns vídeos poderão ser vistos através do: http://www.youtube.com/watch?v=EB7IJE87sE0, http://www.youtube.com/watch?v=EB7IJE87sE0, http://www.youtube.com/watch?v=vx_gy5l19b0 e http://www.youtube.com/watch?v=aote1kgwxtm. Também poderá ser conferida uma entrevista com a Banda no http://www.youtube.com/watch?v=g7Xn5IEOGmo.
Contatos para shows: (31) 3317-0838 (Paim) e (31) 8439-7686 (Jackson).

Esta crítica será publicada em breve no jornal CORREIO MUSICAL.

domingo, 9 de agosto de 2009

Graco Lima Jr: Sob a benção dos Xamãs*





















Por Virgilene Araújo**
(Convidada especial)

Elegemos como hino do 27º Festivale – Festival de Cultura Popular do Vale do Jequitinhonha - a música “Xamã”, do músico/cantor e compositor, Graco Lima Júnior, que ao lado do músico Lucinho Cruz realizou um belíssimo e emocionante show, na noite de 29 de julho em Grão Mogol, cidade hospitaleira, que sediou o Festivale 2009.
“Xamã” ficou registrada em nossa memória, facilitando a evocação dos deliciosos momentos vividos na Praça Beira Rio, na Prainha do Vau, na barroca Igreja da Matriz de Santo Antônio e em vários cantos mais da cidade.
Ali, tivemos o privilégio de beber chás de amor e simplicidade, o que de melhor e mais significativo buscamos na vida. Que saudade, Festivale! Quem não foi, com certeza, perdeu.
O Cd Xamã, de excelente qualidade, é uma verdadeira pajelança musical, de notável inspiração e talento. É de arrepiar a faixa: “Falando as pedras”, quando se ouve incidentalmente a “Ave Maria” de Franz Schubert. A música “Alcalino”, parceria com Luis Dillah é uma verdadeira mordaça, tecida em conjunto, àqueles que ousam calar os justos e corajosos. Já a qualidade poética da letra de Milton Edilberto e música de Lima Júnior em “Prosa Mineira”, que tem a participação vocal de Elomar Figueira de Mello e musical do Maestro João Omar é de tirar o chapéu. Os sentimentos humanos entre os sexos são bastante focados nesse CD e os ritmos musicais oferecem um tempero especial a esse trabalho de grande sensibilidade melodiosa, o qual penetra em nossa alma, nos permitindo um transe muito além do imaginável. Há tempos não ouvíamos um CD como esse, que nos colocasse em êxtase da primeira a última faixa.
Xamã foi produzido pelo próprio Graco Lima Júnior, gravado e mixado nos estúdios Kintal por Adalberto Novais, Digital Live por Léo Brasileiro e Studio Luart por Artur Fabiano. Com direção musical de Graco Lima Júnior, participam do CD os músicos Lúcio Ferraz e Léo Brasileiro nas guitarras, Luciano PP, Sandro e Clériston Cavalcanti no baixo, Léo Brasileiro na bateria sampler, Jorginho Silva, Bazé e Koola nas percussões, Graco Lima Júnior, Léo Brasileiro e Lúcio Ferraz nos violões, Tico, Léo Brasileiro e Luciano PP nos teclados, Cicinho do Acordeom e Kleber Moreno nos acordeões, Maestro João Omar no violoncelo, Diro Oliveira na flauta e Clériston Cavalcanti no piano.
Natural de Almenara/Vale do Jequitinhonha, Graco Lima Junior sempre foi considerado pelos admiradores e críticos musicais como um dos mais criativos cantores/compositores de Minas. Entre 1984 e 1985 morou em Belo Horizonte, onde estudou harmonia e canto na Escola de Música de Minas, de Milton Nascimento. Em BH, Lima Jr, como é carinhosamente conhecido pelos amigos, não teve a mesma experiência de se apresentar na noite, como a maioria de seus companheiros de arte musical. Por outro lado, dedicou-se muito ao “santo oficio” da composição, sem dúvida, a sua maior paixão. Participou de gravações de artistas amigos como Paulinho Pedra Azul e Gonzaga Medeiros. Teve suas músicas gravadas por Saulo Laranjeira, Rubinho do Vale, Jackson Antunes, Carlos Farias, Banda Falamansa, Eskazero, Flor Serena e Trio Jerimum, entre muitos outros. Como compositor e intérprete, participou de alguns dos mais importantes festivais do Brasil, como Avaré/SP, Maceió/AL, Salvador/BA, Minas Gerais e Tocantins.Xamã de Graco Lima Júnior é um importante trabalho musical, digno de sucesso dentro e fora do país.
contato: gracolimajr@hotmail.com

*Esta matéria será publicada no jornal CORREIO MUSICAL, edição agosto/2009
**Poeta e gestora cultural.










domingo, 19 de julho de 2009

Oitavo Pecado – Tudo sobre a falta de educação


Li Oitavo Pecado – Tudo sobre a falta de educação (Edição do Autor) de Lenice Bismarcker e Rogério Zola Santiago. Percebi no conteúdo deste livro uma ânsia do co-autor, Rogério Zola Santiago, por compreender, mais do que explicar, o porque das relações humanas interpessoais e públicas estarem, atualmente, tão difíceis.
Zola com competência e esforço, hoje, garante difusão de suas idéias nos meios respeitados e Vips da sociedade mineira. É um ser inquieto que busca mudanças através de conscientizações, na perspectiva de uma sociedade mais igualitária, onde todos possam conhecer e fazer uso da ética, do bem viver e boas maneiras.
Da página 191 em diante percebo que há uma necessidade de esmiuçar a história do Brasil e do mundo, no intuito de preparar o leitor/cidadão para o entendimento de que: as atitudes de cada um fazem parte de um processo histórico, e que o mais importante na formação de um ser humano não é a sua origem ou classe social, mas a educação consciente e embasada.
Da página 1 a 185 as idéias são ditas com uma linguagem elegante, nada que lembre livros de etiquetas comercialmente escritos e de fácil vendagem nos dias atuais. Oitavo Pecado –Tudo sobre a falta de educação traz nuances da mineiridade, orientações lúcidas e inteligentes sobre moda e diplomacia nas relações humanas interpessoais e públicas, imprescindíveis no mundo e não somente nos países europeus. O Brasil, com este livro, pode aprender muito.
A conclusão que se chega, com a leitura deste, é a de que não é nada careta as etiquetas humanas, pois não importa o local: América Latina, Continente Africano, Asiático... O importante de fato é a educação, pois civilidade cabe em qualquer bolso e lugar.
Este livro veio justamente nos ajudar a sair do estado primitivo em que – se analisarmos bem – estamos vivendo - Atitudes absurdas, independente de berços.
Por um lado, tanto avanço da ciência e tantos esforços dos educadores em universidades e demais estabelecimentos de ensino, por outro lado tanto retrocesso. Portanto, a leitura de Oitavo Pecado-Tudo sobre a falta de educação, para muitos será reconhecida como ótima literatura, para outros nem tanto, entretanto não é isso que coloco em questão, mas o valor das idéias nele contidas.
Zola é natural de Belo Horizonte. Tem várias obras publicadas, dentre elas os livros de poemas Draga, e Fragatas e Silêncios. Seu texto Terra Brasilis, em prosa, após transformado em balé-teatro, foi premiado no "Festival Jovem" da Escócia. Quando professor nos Emirados Árabes Unidos, escreveu ORIENTE - Apocalipse Antecipado. Especializou-se em "Comunicação Rural" em Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Dedicou-se por 25 anos a incentivar seus alunos a escrever bem, lecionando disciplinas relacionadas com a língua portuguesa. Crítico de artes plásticas e cênicas possui título de "Mestre em Comunicação Social" pela Indiana University, Estados Unidos, e cursos de "História da Arte" pela Universidade de Atenas, Grécia.
Lenice Bismarcker começou a fabricar chapéus, cabeças de noivas e flores belíssimas aos 15 anos. Sua mãe Hilda Magon, já era conhecida como a única fabricante no ramo chapeleiro em Minas Gerais; residindo em Belo Horizonte, montava peças variadas e perfeitas para o eixo Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. Hoje ela ainda aluga e vende chapéus e complementos como: bolsas, flores, echarpes, peles, bijoux, para valorizar uma toilette excessivamente despojada. Fornece chapéus de época para a Rede Globo de Televisão, peças teatrais, desfiles, e quando procurada com certa antecedência por noivas e familiares, da uma consultoria completa sobre o assunto.
Contatos: rogeriozola@zipmail.com.brrogeriozola@ig.com.br –lenicechapeus@terra.com.br








sábado, 30 de maio de 2009

Estilhaços no Lago de Púrpura: a poesia num só sopro, de Wilmar Silva

Foto/Imagem: Sebastián Moreno

Alguns afirmam que poesia é trabalho de burilamento, outros que é só emoção. Eu afirmo que uma coisa está ligada a outra. Há autores, como João Cabral de Melo Neto que trabalhavam quase totalmente, a arquitetura do poema. Outros como Walt Withman escreviam “numa sentada só” e são considerados grandes poetas universais. Qual seria a verdade absoluta de se fazer poemas? Quem haverá de dizê-lo? Como já disse Jimi Vieira: “Poesia é poesia e ponto final!”
A verdade é que Wilmar Silva, poeta sentimentalmente arquiteto da palavra, escreveu Estilhaços no Lago de Púrpura (Anome Livros) num só fôlego e justamente por isso, talvez esse seja seu livro mais verdadeiro, por não encontrarmos o lapidar frio gramatical, mas a emoção que veio como um grito primal, do fundo da alma do poeta, onde não existe meias palavras. Aqui o verbo é rasgado poeticamente como veio ao mundo. Parido como quem aborta um turbilhão de sentimentos encravados do fundo do poço do pensamento, Wilmar Silva escreveu um poema dividido em 30 versos de onze linhas, despindo-se de todo o pudor verbal que possivelmente ainda guardava escondido naquele baú da sua memória. Este é o livro em que o autor tornou-se bem mais verdadeiramente humano e consequentemente, poeta, do que nos livros anteriores (sem desmerecê-los, é lógico). Nota-se ao longo da leitura, um falar capiau, com nuanças de um lirismo amarrotado, o que vem a tornar sua poesia de uma rara beleza. Vejamos: “eu arrefecido no amálgama de morangos e amoras/sim: eu faria um cipó para o alcance de narciso e faria mãos, punhos, cotovelos, braços e ombros de âmbar e quartzo para chegar ao córrego que lateja mais vasto que um leopardo nas araras que gritam nos penhascos e nas fontes dos ouvidos/eu destilo jutas só para juncar meu nariz nas cascavéis que protegem seu corpo de mim: sou esta redoma que apodrece virgem entre cactos e mais podre que um avelã medieval sou medievo/medievo sim/medievo e árido, áspero, apaixonado”
Natural de Rio Paranaíba, interior do estado de Minas Gerais, filho de lavradores e que viveu metade de sua vida na capital mineira, por isso tornou-se matutamente metropolitano e isso está encravado na sua poesia. Publicou Lágrimas & Orgasmos (1986); Águas Selvagens (1990); Dissonâncias (1993); Moinho de Flechas (1994); Cilada (1997); Solo de Colibri (1997); Çeiva (1997); Pardal de Rapina (1999); Anu (2001); Arranjos de Pássaros e Flores (2003) e Cachaprego (2004).
Estilhaços no Lago de Púrpura é um livro que mexe com o leitor, justamente por ter antes de tudo, emoção a flor da pele. Feito de uma poesia de rara beleza é um livro que deve ser lido também, num só fôlego.
A primeira edição de Estilhaços no Lago de Púrpura veio a público em 2006 pela Anome Livros, a segunda edição em 2007 pela mesma editora e agora em 2009 sai mais esta, uma co-edição entre a Embaixada do Brasil em São Domingos, o Centro Cultural Brasil-República Dominicana e a Anome Livros.
Em tempo: Wilmar Silva (ou Joaquim Palmeira) terá sua obra discutida no projeto “Banquete de Idéias”, promovido pela OPA/Oficina de Produção Artística de Belo Horizonte, dia 17 de junho, a partir das 19 hs, no SESC-Laces/JK a Rua Caetés, 603/3º andar (esquina com Rua São Paulo) e também o poeta estará batendo um papo com o público dentro do projeto “Sempre um Papo”, dia 29 de junho as 19:30 hs, na Sala Juvenal Dias, do Palácio das Artes, em Belo Horizonte/MG.
Contatos: 3496.5314 – 9975.6627 – e-mail: wilmarsilva@wilmarsilva,com.br.




domingo, 3 de maio de 2009

Rumor da Casa, de Telma Scherer




"Rumor da Casa" (Editora 7Letras), livro de Telma Scherer, desvenda a casa que existe dentro dela mesma. A autora busca nas lembranças, a poesia guardada em seu íntimo e essa é feita com a competência dos grandes poetas, desses que conhecem o seu ofício. Num saudosismo que se diferencia tem facilidade para abrir as portas de sua percepção poética, quando diz: “Vó Elza tricotava/e me ouvia./Ela fazia peixes/viagens a Marte/toalhas/e sins/Quando faleceu/a vó Elza deixou um prato/sujo/na pia/(...)/Vó Elza cuidava da casa/mais do que dela mesma./Ela era a casa./(...)” São nas sutis metáforas, que percebemos a beleza da poesia de Telma Scherer. Sem egoísmos se abre ao leitor e fala de outros poetas, com a grandeza dos humildes: “Hoje tive alguns pendores/com aquela Ana Cristina./Ana Cristina era persona./Eu, personne./Ela, cansada de ser homem/tirou luvas de pelica, delicadas/e foi chorar no banheiro./Isso eu faria, não fosse porca./(...)” Feita de imagens e palavras, sua poesia torna-se de rara beleza, esteticamente poética, quando diz: “Pior é o silêncio/de dentro./(...)” ou mesmo: “Peguei Deus em flagrante./Ele estava maquiado/e de pareô./(...)”
É nas entrelinhas de seus versos que podemos sentir a intensidade de sua poesia. O livro"Rumor da Casa" é profundamente intimista e belo. Tive oportunidade de assistir a performance homônima da autora no 22º Psiu Poético – Salão Nacional de Poesia de Montes Claros e pude comprovar a força oral e performática de seus poemas.
"Rumor da Casa" tem financiamento do Fumproarte, Fundo de Apoio à Cultura da prefeitura de Porto Alegre/RS e foi sendo escrito ao longo de seis anos de performances artísticas e poéticas em diversos lugares, nos quais a autora se deixava contaminar pela interação com o público presente, numa conexão circular que mais tarde voltava aos poemas, retrabalhados até a forma final apresentada no livro.
A gaúcha Telma Scherer nasceu em Lajeado, interior do Rio Grande do Sul, em 1979. Aos 17 anos mudou-se para Porto Alegre, onde cursou Filosofia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Em seguida, na mesma instituição, fez mestrado em Literatura Comparada. Lançou "Desconjunto" pelo Instituto Estadual do Livro em 2002. Participou de oficinas literárias com Ronald Augusto e Luiz Antonio de Assis Brasil. Como ministrante de oficinas iniciou no projeto Descentralização da Cultura, da Prefeitura de Porto Alegre, em 2004. Morou em Florianópolis, onde iniciou os estudos de doutorado, cancelados em 2006. Trabalhou em projetos literários do SESC Santa Catarina como Café Literário e Estação de Leitura Social. Em 2007 retornou a Porto Alegre, onde integrou a coordenação do Espaço Educativo da 6ª Bienal do MERCOSUL. Atualmente ministra oficinas de haicai para o SESC Rio Grande do Sul, além de organizar saraus com o grupo Teia de Poesia e desenvolver o projeto Rumor da Casa.
"Rumor da Casa" é um livro para se ler e reler sempre e a cada nova leitura descobrir, nas entrelinhas, novas sutilezas deixadas pela autora.
Contatos: telmascherer@gmail.com – Site: (http://www.rumordacasa.com.br/).

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Reino de deus: a ousadia excomungada do escritor Sílvio Cerceau


Quando em 2005 publiquei Quermesses (e outros poemas profanos) criou-se um certo mal estar entre leitores de minha obra. É que neste livro estavam poemas que criticavam o capitalismo religioso. Fui criticado e elogiado, mas sobrevivi por ter coragem de dizer verdades. Com o surgimento das seitas evangélicas universais, mercantilizando Jesus, a fé virou comércio. Mas quem somos nós, apostólicos romanos para jogar pedra no teto do vizinho, quando esse vizinho copia nossos erros, produzidos por quase dois mil anos. Mas isso é outro versículo, digo, capítulo...
Agora me chega às mãos Reino de deus (Editora Literato) do escritor Sílvio Cerceau, um romance que vem tocar nessa ferida mais profundamente, por falar desse assunto tão polêmico que é o mercantilismo religioso. Poucos sabem, mas Jesus Cristo, o Salvador é o segundo maior produto de marketing mundial, só perdendo para a Coca-Cola.
Numa época de total desrespeito político e social para com as pessoas humanas, em que se vive na desesperança no dia de amanhã, aproveitadores com a alma aberta para a esperteza, dizendo-se mensageiros de deus (esse seria com dê minúsculo), vivem a extorquir dos mais humildes inteligentemente, com isso enriquecendo com a fé religiosa, que remove montanhas de dinheiro. Reino de deus de Sílvio Cerceau vem justamente denunciar essa picaretagem hoje universal, em forma de ficção. Mas não devemos nos esquecer que a arte imita a vida e por aí afora... Conta a história de Carlos Morais, um homem simples que começou seu trabalho como Office-boy na adolescescência, descobriu a fórmula mágica do enriquecimento ilícito a partir da fé humana, criando a igreja “Reino do Céu”, envolvendo-se num jogo de drogas, mortes, corrupção e lavagens de dinheiro. Um livro forte e surpreendente, desses que mexem com quem o lê e que por certo incomodará aqueles que, como se diz no ditado popular, “a carapuça servir”.
Leiamos:
“(...) Sou o seu escolhido. Tenho de tudo o melhor. Apresento uma vida plena. Ainda em Gênesis 12 Deus fez um pacto com Abraão e este mesmo pacto ele quer fazer hoje com vocês. O que mais Abraão amava era o seu filho Isaque e deus o pediu em holocausto, sacrifício. Disse: “Tomai o teu filho, Isaque a quem amas e vai-te a terra de Moriá e oferece ali em holocausto” - respirou profundamente, tomou água, observou o templo repleto de centenas de pessoas. O “templo maior” erguido na capital de cada estado com uma infra-estrutura para receber em média cinco mil pessoas. Um local confortável, admirável que, quando edificado chamava a atenção de toda a sociedade. Tem que ser muito luxuoso, afinal, pobre só vai encontrar conforto aqui no reino do céu - dizia Bispo Morais debochando.(...)
Nascido em São Paulo e morador de Belo Horizonte desde a infância, o escritor Sílvio Cerceau é reconhecido por tratar de temas polêmicos em suas obras, como, por exemplo: homossexualidade, prostituição e anorexia. Estreou em 2004 com o livro Vitrine Humana, e nos anos seguintes publicou seus romances conflitantes, Desejo Alheio, Encontros e Despedidas, Impossível Esquecer e agora Reino de deus, todos pela Editora Literato.
Reino de deus, romance de Sílvio Cerceau é um livro verdadeiro e que, independente de ser excomungado ou não, merece ser lido por quem gosta de uma literatura autêntica.
Pedidos de livros poderão ser feitos através da editora, pelo e-mail: algomais@editoraliterato.com. Visitem o site: www.editoraliterato.com .

quarta-feira, 18 de março de 2009

Anu: a poesia desconstrutiva de Wilmar Silva








Com Anu, o poeta Wilmar Silva se serve de um não texto, destemido, onde o êxtase seminal é fundido em forma concreta (mas não se trata de poesia concreta, pois pela originalidade, vai além disso) e rediviva de vivência, uma espécie de solo dúbio e ambíguo para sedimentar além das plantas dos pés, todo o corpo em mutação, do sêmem ao ser humano, cabeça, tronco e membros como a senda do espaço-físico, terra, água, fogo e ar.
A maneira de uma antítese, o poeta trabalha a técnica e a consciência, mas inebria-se com a sensível imperfeição que nos faz lembrar uma criança sendo alfabetizada, sob a sabedoria de educadores que admiram a psicóloga e pesquisadora argentina radicada no México, Emília Ferreiro. Vem justamente daí, a poesia prosaica juntada em palavras que se espicham no negro central da folha branca do papel, surgindo num fôlego dúbio, numa só respiração palavrial, extraindo o que vem de dentro do âmago do poeta, numa construção desconstrutiva do que podemos considerar como sendo o verbo “poetar”.
Neste final de século XX e início de século XXI fala-se muito em vanguarda como algo novo, sem refletirmos qual a própria vanguarda é antiga. Vide por exemplo a vanguarda européia, surgida no início do século XX. Por essa razão, pela sua ousadia poética, não podemos dizer que Wilmar Silva tem sido um poeta vanguardista, mas sim, um poeta que constrói uma poesia pós- contemporânea, sempre indo fundo naquilo que se propõe a fazer, porque acredita fielmente no que é: um poeta. Não se amedronta diante do risco e suas idéias que hoje nos parecem absurdas, só serão entendidas daqui a muitos anos-luz. Wilmar Silva lembra-me Walter Franco e sua composição “Cabeça” , quando em 1972, em pleno Festival Internacional da Canção, levou a comissão organizadora a demitir um júri inteligente, substituindo-o por um outro júri, porém de uma imbecilidade natural, buscando no simplesco, agradar um público preguiçoso e ansioso por algo já pronto, acessível a qualquer “cabeça” acomodada de reflexões e desvendamentos do que o autor queria passar, provavelmente para poucos que o compreenderiam. Anu é assim, elogiado pela crítica inteligente e criticado pelos que se acomodam na inércia de buscar o que está por trás daquilo que o autor quer deixar para o leitor. E pela maturidade poética e histórica de Wilmar Silva podemos afirmar que ele sabe muito bem o que escreve e a que se propõe: sua construção verbal desconstruída.
Por essa ousada desconstrução poética, a histórica publicação da primeira edição de Anu em 2001, pode ser considerada um divisor de águas na moderna poesia contemporânea brasileira, tal como Sargent Pepper`s Lonely Heart Club Band, dos quatro cabeludos de Liverpool representou em 1967 para o rock and roll universal.
Vale conhecer e experimentar ler Anu, nem que seja para desafiar nossa mente lerda de reflexões, buscando no cansaço da descoberta da poesia de Wilmar Silva encontrar aquela parte acesa intelectualmente e que ficara escondida lá no canto de nossa cabeça.
Em tempo: Anu teve uma edição publicada em dezembro de 2008 pela Editora Confraria do Vento/ Rio de Janeiro.
Estilhaços no Lago de Púrpura, (Anome Livros), livro desse autor será publicado na Argentina e na França, além de ter uma co-edição Anome Livros e Embaixada Brasil República Dominicana, em quatro idiomas, português, espanhol, francês, inglês.
Contato com o autor: wilmarsilva@wilmarsilva.com.br
Contato com a Editora: www.confrariadovento.com

sexta-feira, 6 de março de 2009

Outros Barulhos: a poesia simples e de qualidade de Reynaldo Bessa


Recebi Outros Barulhos (Anome Livros) de Reynaldo Bessa, com certa apreensão, pensando tratar-se de outro músico metido a escrever poesia, já que letra de música muitas vezes é também poesia, mas poesia nem sempre é letra de música. Após uma leitura em meio a receios e expectativas cheguei à conclusão de que Reynaldo Bessa não é só um grande músico, mas um poeta sensível e perceptivo que, com certeza, se destacará no cenário poético brasileiro.
Um dos maiores livros da literatura universal, Dom Quixote de La Mancha, levou seu autor a ser um dos melhores escritores universais porque conseguiu unir numa mesma obra, uma literatura da melhor qualidade com detalhes surpreendentes aos críticos mais exigentes e uma linguagem simples, de fácil entendimento para aqueles que buscam uma história de aventuras.
Nos dias atuais, poetas buscam escrever uma poesia só compreensível para ele mesmo e o pior: críticos, com receio de serem criticados por não compreenderem algo que eles não poderiam compreender, consideram aquele abstrato obra prima da poesia contemporânea brasileira.
Reynaldo Bessa em seu Outros Barulhos, por certo, agradará aos mais variados leitores e ao crítico literário mais detalhista, pois faz uso de preciosas metáforas para escrever uma poesia de qualidade e simples, simplicidade que aqui considero seu ponto forte.
Ao voltar à infância, o poeta usa de lembranças para visualizar imagens poéticas surpreendentes, quando diz: “o silêncio/do meu irmão/doía mais/que as pancadas/do meu pai”. Mostra-nos que para ser moderno não é necessário perder o lirismo, como nestes curtos versos: “os vestidos escondem/mais segredos do que o mar”. Sem perder o seu espírito social, fala do menino cujo sonho era ter tênis novos e do sonho desfeito com o roubo desses tênis; do espirro que dá para a sociedade hipócrita e opressivamente capitalista; e critica nossa condição humana em versos criativos, que diz: “os macacos/desceram das árvores/aí nasceu o trabalho,/a infidelidade, o divórcio e/o apartamento de um dormitório” . Encerra com o poema intitulado “Fim”, poeticamente rico por suas variadas possibilidades, resumindo numa única frase: “muitas coisas acontecem depois dele”
Reynaldo Bessa é cantor, compositor, violonista, escritor e poeta. Nasceu em Mossoró/RN. Está radicado em São Paulo/SP há vinte anos. Lançou cinco CDs. Outros Barulhos é o seu primeiro livro e um dos melhores de poesia que li nestes últimos anos.
E-mail: contato@reynaldobessa.com.br . Site: www.reynaldobessa.com.br