sábado, 30 de maio de 2009

Estilhaços no Lago de Púrpura: a poesia num só sopro, de Wilmar Silva

Foto/Imagem: Sebastián Moreno

Alguns afirmam que poesia é trabalho de burilamento, outros que é só emoção. Eu afirmo que uma coisa está ligada a outra. Há autores, como João Cabral de Melo Neto que trabalhavam quase totalmente, a arquitetura do poema. Outros como Walt Withman escreviam “numa sentada só” e são considerados grandes poetas universais. Qual seria a verdade absoluta de se fazer poemas? Quem haverá de dizê-lo? Como já disse Jimi Vieira: “Poesia é poesia e ponto final!”
A verdade é que Wilmar Silva, poeta sentimentalmente arquiteto da palavra, escreveu Estilhaços no Lago de Púrpura (Anome Livros) num só fôlego e justamente por isso, talvez esse seja seu livro mais verdadeiro, por não encontrarmos o lapidar frio gramatical, mas a emoção que veio como um grito primal, do fundo da alma do poeta, onde não existe meias palavras. Aqui o verbo é rasgado poeticamente como veio ao mundo. Parido como quem aborta um turbilhão de sentimentos encravados do fundo do poço do pensamento, Wilmar Silva escreveu um poema dividido em 30 versos de onze linhas, despindo-se de todo o pudor verbal que possivelmente ainda guardava escondido naquele baú da sua memória. Este é o livro em que o autor tornou-se bem mais verdadeiramente humano e consequentemente, poeta, do que nos livros anteriores (sem desmerecê-los, é lógico). Nota-se ao longo da leitura, um falar capiau, com nuanças de um lirismo amarrotado, o que vem a tornar sua poesia de uma rara beleza. Vejamos: “eu arrefecido no amálgama de morangos e amoras/sim: eu faria um cipó para o alcance de narciso e faria mãos, punhos, cotovelos, braços e ombros de âmbar e quartzo para chegar ao córrego que lateja mais vasto que um leopardo nas araras que gritam nos penhascos e nas fontes dos ouvidos/eu destilo jutas só para juncar meu nariz nas cascavéis que protegem seu corpo de mim: sou esta redoma que apodrece virgem entre cactos e mais podre que um avelã medieval sou medievo/medievo sim/medievo e árido, áspero, apaixonado”
Natural de Rio Paranaíba, interior do estado de Minas Gerais, filho de lavradores e que viveu metade de sua vida na capital mineira, por isso tornou-se matutamente metropolitano e isso está encravado na sua poesia. Publicou Lágrimas & Orgasmos (1986); Águas Selvagens (1990); Dissonâncias (1993); Moinho de Flechas (1994); Cilada (1997); Solo de Colibri (1997); Çeiva (1997); Pardal de Rapina (1999); Anu (2001); Arranjos de Pássaros e Flores (2003) e Cachaprego (2004).
Estilhaços no Lago de Púrpura é um livro que mexe com o leitor, justamente por ter antes de tudo, emoção a flor da pele. Feito de uma poesia de rara beleza é um livro que deve ser lido também, num só fôlego.
A primeira edição de Estilhaços no Lago de Púrpura veio a público em 2006 pela Anome Livros, a segunda edição em 2007 pela mesma editora e agora em 2009 sai mais esta, uma co-edição entre a Embaixada do Brasil em São Domingos, o Centro Cultural Brasil-República Dominicana e a Anome Livros.
Em tempo: Wilmar Silva (ou Joaquim Palmeira) terá sua obra discutida no projeto “Banquete de Idéias”, promovido pela OPA/Oficina de Produção Artística de Belo Horizonte, dia 17 de junho, a partir das 19 hs, no SESC-Laces/JK a Rua Caetés, 603/3º andar (esquina com Rua São Paulo) e também o poeta estará batendo um papo com o público dentro do projeto “Sempre um Papo”, dia 29 de junho as 19:30 hs, na Sala Juvenal Dias, do Palácio das Artes, em Belo Horizonte/MG.
Contatos: 3496.5314 – 9975.6627 – e-mail: wilmarsilva@wilmarsilva,com.br.




3 comentários: